Professor, escritor e único crítico de literatura de cordel do país, Aderaldo Luciano enriqueceu nossa tarde na Universidade das Quebradas, apresentando os Pais do Cordel e as fantásticas histórias dessa arte genuinamente brasileira.
O professor começou mostrando a diferença entre poesia matuta e a poesia de cordel. A poesia matuta utiliza uma linguagem escrita que busca se aproximar da oralidade, enquanto o cordelista é rigorosíssimo. O poeta de cordel é um sujeito muito culto que leu Shakespeare para samplear, para fazer uma transcriação a partir destas histórias trágicas que têm as mulheres como traidoras.
Como exemplo de um grande cordelista, Aderaldo cita José Camelo de Melo Resende, um sujeito nascido no interior da Paraíba, em 1923, que escreveu uma ficção científica; o Pavão Misterioso. Este cordel já vendeu 50 milhões de cópias!
A história do cordel, segundo Aderaldo Luciano, começa com quatro sujeitos no Recife do final do século XIX. Nesta cidade, centro de efervescência cultural e industrial e cede de um grande parque gráfico se encontram os quatro poetas nascidos na Paraíba; Silvino Pirauá de Lima, Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athaíde e Francisco das Chagas Batista.
Leandro Gomes de Barros assistiu quando criança, uma famosa peleja entre os poetas cantadores, Inacio da Catingueira e Romano da mão d´agua. Aos quinze anos, em 1887, fugiu para o Recife de carona em tropas de burros. Cheio de poesias na cabeça, desejava publicar os seus versos. Leandro tinha um poema de 50 estrofes na cabeça que não cabia num folheto e ele precisou adaptar matematicamente o poema para o livreto de oito páginas. Leandro tornou-se tipógrafo e vendedor que comandava uma rede de distribuidores. Ao morrer, em 1918 com a gripe espanhola seu acervo foi vendido para João Martins de Athaíde. Este assumiu a autoria das obras e instalou uma gráfica, contratou poetas e publicou livros de cordel durante 29 anos.
Francisco das Chagas Batista não queria que o cordel fosse apenas um folhetim e começou a produção com melhor apresentação em capa dura. De 1950 a 1970 José Bernardo da Silva conservou a arte da poesia de cordel em Juazeiro do Norte publicando os poemas que eram de Leandro, e que João Martins assumira a autoria. Ele foi o último grande produtor de cordel antes que esta cultura fosse massacrada pela mídia e pela cultura de massa.
O professor enfatizou também a incorreta interpretação que se dá a arte da xilogravura e a arte de Cordel. Xilogravura não é sinônimo de cordel! A xilogravura é uma arte à parte.
Aderaldo avisa: A maior característica do cordel é a sextilha. Qualquer cordel começa com a sextilha; estrofes de seis versos com rima alternada.
Nos anos 70 e 80 o cordel entrou em decadência no nordeste. Hoje podemos contar com Azulão lá na Feira de São Cristóvão aos domingos, fiel cordelista de 84 anos.
Respondendo á pergunta da Denise Kosta, se ele se considerava um cordelista, Aderaldo respondeu que a literatura, segundo o estudioso Antônio Cândido, é um sistema constituído de quatro pilares; o autor, o editor, o leitor e o crítico. Aderaldo Luciano é um crítico de Literatura de Cordel!
Todos nós presentes nesta tarde, ficamos gratos pela seriedade com que o tema foi desenvolvido e ao mesmo tempo pela leveza e encantamento de Aderaldo Luciano transmitiu sua paixão pela arte da Literatura de Cordel.
(Por: Wanda Lúcia Batista – BOLSISTA PIBEX- UFRJ- Faculdade de Medicina-T.O)