Em mais uma terça de inquietações, recebemos a professora Silvia Ramos, que nos falou sobre um assunto incomodo e necessário; a geografia da violência e suas principais causas no Brasil.
Cada um de nós, nossos familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos certamente já passaram por alguma situação de submissão a violência. Todos os dias somos atingidos de alguma maneira por seu devastador efeito, e infelizmente nos acostumamos a conviver com ela e a naturaliza-la, muitos fecham os olhos para a realidade que tem rosto, família, cor, gênero, idade e endereço.
O Brasil hoje, a sexta maior economia do mundo, esta em oitavo lugar no ranking internacional de violência, esse numero leva em consideração a taxa de homicídios registrados por país a cada ano. A realidade entre a nossa emergente economia e os índices de violência é destoante, atingimos a média a 50 mil homicídios por ano, sendo a região nordeste a mais violenta do Brasil hoje, só em Pernambuco o índice de homicídios é de 106%, maior que a média nacional. Essas 50 mil pessoas são em sua maioria homens negros, entre 14 e 24 anos, pertencentes as camadas mais pobres do país.
No Rio de Janeiro a ocupação das favelas por facções criminosas armadas durante 30 anos, somada ao “bum” da cocaína nos anos 80, gerou um quadro particular de corrupção policial e impunidade, motivo de chacinas como a de Vigário Geral e da Maré.
A falta de treinamento e conscientização policial, além da falta de ações efetivas dos governantes foram fatores ainda mais agravantes. Medidas como a gratificação faroeste do governo Marcello Alencar, contribuíram para a má formação policial que acompanhamos em nosso cotidiano e se tornou bastante evidente durante as ultimas manifestações.
Como novas medidas para reverter esse quadro, nos últimos anos foram criadas as UPPs. Mesmo com muitos problemas, o modelo tem sido bem implementado em algumas favelas. Silvia nos contou que vem acontecendo, ainda que lentamente, a renovação da polícia, que tem como objetivo substituir os policiais corruptos, por policiais treinados que possuam valores e ensinamentos humanitários em sua formação.
A professora salientou que não podemos nos esquecer do papel da sociedade civil no combate a violência. Precisamos curar essa epidemia de indiferença – termo citado por Silvia – seja através da nossa arte, ou de outra forma positiva que contribua para o desenvolvimento de uma conscientização e pensamento critico dentro de nossas comunidades na busca por nossos direitos.
Após a aula a turma percorreu os corredores da Escola do olhar até o Museu de Arte do Rio para assistir a exposição da artista paraense Berna Reale – Vazio de nós. Com curadoria de Daniela Labra, a exposição trata sobre a temática da história da violência, a partir de cinco vídeos que buscam provocar e inquietar o expectador com imagens e sons que levam a reflexão sobre a violência cotidiana, muitas vezes naturalizada por nós. A experiência unida a brilhante aula de Silvia Ramos gerou um rico debate entre os Quebradeiros.
Para Saber mais:
VENTURA, Zuenir, Cidade Partida, São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1995.
BARCELLOS, Caco, Abusado – O dono do morro Santa Marta, Rio de Janeiro: Record, 2003
Cesec: www.ucamcesec.com.br
Leap Brasil: http://www.leapbrasil.com.br
Priscila Medeiros – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ
Imagem: obra Ordinário de Berna Reale.