Tivemos duas aulas na última quinta dia 21/8/14 na sala do PACC no Fundão e aqui está a pós aula desse dia. Aproveite e enriqueça com seus comentários essas aulas.
Felipe Boaventura
Comunicação Universidade das Quebradas
por Priscila Medeiros Bolsista PIBEX/PACC – UFRJ
Aula 1
Fundamentos da Poesia Brasileira – Eduardo Coelho
O Professor Eduardo Coelho trouxe questões sobre os fundamentos da poesia brasileira, relacionando temáticas, estrutura e elementos abordados ao longo dos séculos em poesias de: Gregório de Mattos, Rodrigues Lobo, Claudio Manuel da Costa e Mário de Andrade.
Para o professor, a poesia brasileira sempre teve caráter antropofágico, já que se apropria inicialmente do formato do soneto italiano, adotado também por Portugal, e que é predominante durante o período colonial brasileiro. Diferente das regras de movimentos literários pelo mundo onde a fantasia e o onírico por vezes predominam, no Brasil sobressai no trabalho dos poetas citados um olhar do cotidiano, que aponta uma busca pela identidade brasileira indiciada pela inserção de elementos nacionais como a flora, a fauna e o índio.
Uma tendência permanente de nossa poesia é a de sempre se referir às coisas próximas ao lugar, “ao nosso aqui”, o que revela questões ligadas não apenas à identidade literária brasileira, mas também a questões políticas e sociais. Como a preocupação com o meio ambiente tratada por Claudio Manuel da Costa e o dilema entre a cidade e o campo, paisagem e cultura tratados por Mário de Andrade.
A poesia, durante muito tempo, foi o suporte literário e intelectual brasileiro, e sua circulação gerava debates e supria a falta das universidades — criadas apenas no inicio do século XX. Mesmo a produção de ficção no Brasil continua realista, por isso o Surrealismo na década de 1920 foi amplamente criticado por Mário de Andrade, pois, para o escritor, era o momento de olharmos para a nossa cultura, buscar nossa identidade como nação e não recorrer ao sonho.
Aula 2
Rap e a produção literária em periferias – Ecio Salles
Criador da Flup, Ecio Salles falou sobre o rap e a produção literária em periferias, partindo da ideia de nação abordada pelo historiador Nicolau Sevcenko, e examinando questões raciais e culturais ao longo de nossa História.
O negro foi fortemente oprimido no Brasil, e este fato sempre foi tratado como tabu; o racismo é o grande sintoma de uma nação que não prioriza a integração e a conscientização, causando traumas históricos profundos, feridas abertas até hoje. O projeto de embranquecimento e a descriminalização das favelas são algumas dessas questões.
Criou-se a política de não tocar no assunto, de acreditar que no Brasil o racismo não existe, mas tal medida não acabou com o problema, apenas o agravou. Ecio critica neste ponto a postura de Gilberto Freire, apesar de seu grande trabalho, uma vez que a problematização da mestiçagem, levou a ideia de que somos todos brasileiros e não negros, índios e brancos; tirou-se a chance do negro se afirmar como negro. Naturalizando assim o racismo.
Apesar da criação de muitos movimentos em defesa dos direitos e da cultura negra, esses temas não eram abordados pela produção musical e literária existente nas periferias — nem o Samba tratava de maneira explicita tais questões. E apenas na década de 1990 o rap trazia à tona fatos e sentimentos reprimidos sobre racismo, violência e impunidade, sendo ditos de forma real, sem eufemismos em letras consagradas dos Racionais MC.
Salles defende que os debates levantados pela chamada literatura marginal, e a criação de saraus dentro das periferias, sejam um canal de informação para questões contemporâneas e que, além de literatura marginal ou periférica, ela seja vista e incorporada como parte da literatura brasileira.
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