Pós-Aula MAR 11: Museu e Coleções – Paulo Herkenhoff

Por Rafaela Nogueira – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ

Nosso último encontro foi marcado, mais uma vez, pela presença do diretor do MAR, Paulo Herkenhoff, para falar sobre os conceitos e funções de um museu para com a sociedade, a partir do debate em torno da ideia do que representa um museu e que tipo de relação social atuante e significativa ele promove, sobretudo pensar na importância que tem as suas coleções, sendo a coleção uma coleta de bens culturais, isto é, um lugar de valores simbólicos.

Para o curador, não é tarefa de apenas um museu, mas de todos, praticar uma relação extensa com a sociedade. Paulo cita alguns conceitos criados sobre a ideia de museu e fala da sua preocupação com a história. O que o incomoda neste sentido, pois a experiência do método positivista em suma impede as possibilidades de uma emancipação social, ou seja, estando sob um viés retrógrado que retém a mentalidade cultural fora do presente histórico ou fora da realidade contemporânea. Os conceitos precisam ser repensados para se repensar a sociedade. Por isso, faz-se necessário resgatar alguns conceitos, como o humanismo, o tempo todo, já que a experiência humana é tão radical e bruta. Por isso, o museu não se inventa, uma vez que são as pessoas que constroem o presente. A missão do museu deve ser vista sob uma questão ética. Deve estar a serviço da sociedade e não à concessão da mesma.

Ele esclarece que são desafios do museu, quais bens culturais ele precisa acolher. Porém, segundo Paulo, o MAR não está preocupado em discutir o que tem valor artístico e sim o que pode representar o inconsciente. Afirma que o museu coleciona arte e cultura visual, e o simbólico é fundamental para manter um diálogo com a escola. O arco da educação acontece quando as experiências sociais fazem parte do museu. Por entender esse acolher de bens culturais, que são as experiências da sociedade, é que o museu necessita mudar todos os dias. Entretanto, a educação está de fato, hoje, no centro simbólico das comunidades? É algo a ser revisto.

Para Paulo, todos chegam prontos para a experiência estética. A pedra no caminho na poesia de Carlos Drummond de Andrade representa bem essa perspectiva — “a pedra que eu movo no cotidiano é a linguagem” —, afirma. Reconhece, assim, a experiência do museu e da educação: transformar e dar forma à matéria do mundo, criar linguagem, do significado ao significante. E conclui: “Nós entendemos como sujeito da percepção, estamos no mundo para a arte e linguagem.” O MAR pretende enveredar por esses desafios. Além de atuar como entidade pública na sua função de preservar as coleções, pensar nesses desafios sociais tem sido tarefa contínua em seus projetos. Ter a consciência de que o domínio da linguagem é para todos e o simbólico não é uma barreira, pelo contrário. A leitura de Drummond se encaixa nesse aspecto social: se a pedra é o limite, transformemos em potência.

Os poderes (escolas, museus etc.) podem potencializar os limites, fazer com que a educação seja um desejo de um jovem, assim como ele deseja um tênis da Nike. O museu deve, quer, precisa ser a educação. O MAR não quer a história positivista, pois a história só tem sentido se consegue emancipar o presente, e reconhecer o limite é iniciar a potencialidade. Paulo cita Mário Pedrosa: “isto é um exercício experimental de liberdade”.

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(Caricatura feita pelo Quebradeiro Oseias Casanova da 5ª turma da UQ durante esta aula)