Pós-aula MAR 8: Cartografias – Angela Carneiro

Por Rafaela Nogueira – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ

No dia 30 de setembro de 2014 tivemos um encontro com os cartógrafos da UQ que realizam, desde a 4a edição, o projeto “Garrafas ao Mar”. A mentora, professora e coordenadora da UQ Angela Carneiro promoveu um diálogo com os Quebradeiros dessa 5a edição através dos relatos dos cartógrafos presentes entre cada experiência contada.

A ideia partiu do Quadro da Chegança, no qual os Quebradeiros, no primeiro dia de aula marcaram seus locais de atuação e moradia — o que chamamos de Territórios — na cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, como seria possível sair desse mapa e construir passarelas entre esses locais? Para Angela, nascia uma metodologia: a de trazer a experiência de cada um pelos seus territórios de origem. Questões germinaram ao longo dos encontros semanais promovidos pelo grupo: “O que pode o corpo da cidade, no corpo do nome próprio?”, “Cidade partida: passarela que une e corta”.

O cenário da cidade estava caótico, em virtude das demolições da área portuária e dos enormes engarrafamentos para atender a Copa do Mundo. As rodovias da cidade ainda não estavam organizadas, havia muitos trechos interditados. E essa passagem temporal fora tão intensa e sentida. Criou-se a urgência de pensar este movimento topológico, sociopolítico e cultural. O momento crítico gerou o desejo de fazer, mover, criar e somar esses afetos. Não foi à toa que a queda da passarela da Linha Amarela, na Avenida Brasil, marcou um dos encontros do grupo que, segundo Angela, foi muito simbólico.

Para dar vida às garrafas ao mar, a aula da professora Sandra Portugal sobre manifestos foi essencial. Os manifestos de vanguarda transformaram os caminhos das artes e trouxeram novas perspectivas culturais e políticas — por exemplo, o Manifesto Modernista no Brasil, por Oswald de Andrade, e o Manifesto Comunista na Alemanha, por Marx e Angels. Após a aula da Sandra Portugal, os alunos produziram seus manifestos pensando a cidade e sua relação com ela; mais que um desdobramento da aula sobre manifestos, eles puderam expressar, pela a escrita, vivências, conflitos e desafetos. Esses chamados Manifestos Quebradeiros foram colocados em garrafas para serem atiradas ao mar. O projeto contou com a parceria do Lamce – Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia, UFRJ, que idealizou as “Garrafas Modernas”. Foram implantados GPSs nessas garrafas para monitorar seus trajetos pelo Atlântico e criado um aplicativo que ilustra as rotas e possibilidades futuras da viagem da garrafa.

Em seguida, um grande mapa foi construído para dar uma nova imagem cartográfica do Rio de Janeiro, a partir de linhas férreas e pontos de referências que não estão em um mapa turístico. A convenção dos pontos cardeais também não foi respeitada, dando-se preferência a territórios da cidade do Rio que eventualmente estejam invisíveis.

Segundo os relatos dos cartógrafos, corpo e tempo precisam estar disponíveis para serem afetados. O afeto no plano da cartografia significa atravessar e ser atravessado, resgatando o tempo que ouve, desenha e abre possibilidades para outras realidades. A metodologia se faz enquanto expande, contagia, inventa novas realidades. Portanto, o diálogo representa a saída dos nossos “guetos”, para que nossos rios deságuem no MAR. “Na imensidão do mundo, a única certeza: O desejo de encontrar.”

EXTRA:

O laboratório do Lamcehttp://www.lamce.coppe.ufrj.br/secao-portfolio/garrafas-ao-mar/garrafas-ao-mar.html