Nossa aula no dia 11/09/14 foi muito especial! Tivemos a última aula no PACC desse semestre com a professora Georgina Martins falando sobre a representação da literatura na infância – assunto que gerou muito debate – , além da última parte da oficina do João Paulo Cuenca, e o lançamento da Fala Quebradas Edição #1.
Leia as pós-aulas abaixo e não esqueça de comentar ao final.
Abraços,
Felipe Boaventura
#Comunicação Universidade das Quebradas
A representação da infância na literatura
Por Rafaela Nogueira – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ
Esteve em nosso último encontro na Letras, no dia 11/09/14, a professora Georgina Martins. Georgina é do curso de Pós-Graduação em Literatura Infantil e Juvenil da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autora do livro Tudo por você, lançado em 2012, pela editora Garamond. A professora fez questão de salientar que é parte do movimento Mães pela Igualdade, uma campanha que luta contra a violência, a discriminação e a homofobia.
O tema da aula foi centrado na representação da infância na literatura. Segundo Georgina, grande parte de autores que escrevem sobre a infância tende a encará-la como uma fase adocicada e encantada; alguns levam a temática à nostalgia da infância outrora feliz; literaturas que ganharam primazias, mas que para muitas crianças não fazem parte de suas realidades cotidianas, espacial e individual. Ela dá um exemplo próprio de que Monteiro Lobato nunca fez parte de sua infância vivida em Mesquita, Rio de Janeiro.
Para Georgina, o conceito que melhor representa a literatura é do linguista russo Roman Jakobson: “Literatura é a violência organizada contra a fala comum.” Somando-o com um segundo conceito, de Roland Barthes: “Literatura é o sal das palavras.” Há ainda o aspecto poético na literatura, e para demonstrar que sem a poesia o que resta é a palavra do dicionário, a professora leu o poema “Paixão”, de Adélia Prado:
De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
O mundo, cheio de departamentos, não é a bola bonita caminhando
solta no espaço.
Em outros poemas como “Emergência” e “Recordo ainda”, de Mário Quintana, e “Os meninos carvoeiros”, de Manuel Bandeira, existem a ideia de que a poesia não pode ser utilitária no sentido pragmático, ou seja, um simples pagamento de conta no banco. Por ela ter esse caráter de servir para nada é que serve para tudo, esclarece. Nos poemas se percebe a vontade de problematizar o mundo sem pretensão de querer resolvê-lo. Para a professora, a literatura nos salva do afogamento, enquanto os poemas ainda verberam a infância como período nostálgico e como forma de idealização de amenizar os problemas da infância. Nos contos “Barba de arame”, de Antonio Carlos Viana, e “Darluz”, de Marcelino Freire, a professora desencadeia perspectivas diferentes das temáticas de Manuel Bandeira e Mário Quintana — no sentido de que nos contos, a realidade da infância é narrada sem a idealização da infância como o lugar da saudade e da possibilidade de amenização de algum sofrimento. É o que a professora considera como representação da literatura na infância pobre.
No conto de Viana, o narrador não enxerga a infância como um mundo encantado. A realidade da violência, da superioridade do homem sob a criança, nos é contada sem adoçamento, distante dos finais felizes dos contos de fada — adaptado para o cinema com amenizações da história original. Para Georgina, em “Barba de arame”, o narrador pratica a violência contra a fala comum. Ele desconstrói a ideia de fantasia lúdica, para cumprir o papel de cúmplice do leitor, que é jogado à realidade de uma infância violentada. E critica a literatura, que acha que o lugar da criança é o lugar da felicidade.
No conto de Freire, afirma Georgina, mesmo mostrando a violência, não há um discurso contra a fala comum. O narrador não consegue se distanciar da realidade que é contada, o que produz em seu texto uma caricatura da infância, personagens superficiais que não criam identificações com o leitor, atestando que o narrador é o próprio autor. Segundo a professora, é preciso narrar sob o ponto de vista do outro, como faz Graciliano Ramos ao narrar os pontos de vista de todos os personagens, inclusive a do cão Baleia, em meio a toda aquela pobreza em Vidas secas. O narrador deve ser solidário, isto é, afastar-se da realidade para chegar ao simbólico, ainda que o contexto da narrativa exija uma denúncia da violência contra a infância, já que apenas a literatura pode ter o poder de causar incômodo ao leitor.
Referências e citações:
MARTINS, Georgina. Uma maré de desejos.
VIANA, Antonio Carlos. Aberto está o inferno. Aracaju, 2004.
FREIRE, Marcelino. Balé ralé.
CASTRO, Josué de. Homens e caranguejos.
NETO, Coelho. O rato.
LISPECTOR, Clarice. O lustre.
CAMUS, Albert. O primeiro homem.
VERÍSSIMO, Érico. Clarissa.
________. O prisioneiro.
________. Caminhos cruzados.
Movimento Mães pela Igualdade. Disponível em: http://maespelaigualdade.blogspot.com.br/
Saiba mais sobre os trabalhos de Georgina Martins em: http://camaradolivro.com.br/autores_det.php?id=72.
Conheça a página da professora no Facebook: https://www.facebook.com/pages/Literatura-Georgina-Martins/846977931980275?notif_t=fbpage_fan_invite
Texto escrito pela professora Georgina Martins:
Última parte da oficina de João Paulo Cuenca
Por Octávio Neto – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ
No dia 11/9/14, tivemos a última oficina ministrada pelo escritor e cronista João Paulo Cuenca. Os quebradeiros tiveram suas crônicas lidas e criticadas de forma anônima, para que o exercício cumprisse a tarefa de ampliar os olhares e a percepção perante a cidade sem nenhuma forma de constrangimento. Dentre as dicas dadas por Cuenca estão: a economia de adjetivos, o ineditismo verbal e a indiscrição na hora de observar os outros — o “olhar de cronista”.
A diferença entre crônica e conto foi questionada e prontamente respondida. Conto é uma história completa e fechada como um ovo. É uma célula dramática, um só conflito, uma só ação. A narrativa passiva de ampliar-se não é conto. Já a crônica é o relato de um flash, de um breve momento do cotidiano de uma ou mais personagens. O que diferencia a crônica do conto é o tempo, a apresentação da personagem e o desfecho.
O cronista gostou do resultado das crônicas apresentadas no encontro, apesar de incentivar mais desprendimento no momento da escrita: “Uma boa crônica é quando você consegue se enxergar de dentro, não sendo o protagonista.” Ele também propôs que os quebradeiros criassem esse hábito escrevendo uma crônica por semana, com o propósito de expandir os horizontes e aperfeiçoar a carpintaria de escrita.
Sugestão de leitura:
Rubens Braga. Disponível em: http://pensador.uol.com.br/cronicas_de_rubem_braga/.
Fernando Sabino. Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/?cat=404.