Nesta terça feira, nas quebradas, pudemos experimentar um pouco do que Heloisa Buarque de Hollanda classificou como um poeta expandido. Nossa aula foi ministrada por Eucanaã Ferraz.
Em sua expansão, nosso poeta, não se limitou apenas a descrever a poesia moderna, mas, nos conduziu a uma viagem por alguns poemas demonstrando as características do Movimento Modernista.
A poesia moderna nasce com a vida moderna, urbana. Com a urbanidade que começa com a Revolução Industrial no século XIX, surge as novas experiências de arte e literatura que tinham por objetivo expressar essa vida moderna.
Com a chegada do século XX, temos uma aceleração de todo esse processo iniciado no século anterior, que acarreta uma desestruturação da vida: “Tudo que é sólido se desmancha no ar”. O professor cita o título do livro de Marshall Berman, filósofo americano, que se apropria de um trecho do Manifesto do Partido Comunista Karl Marx e Friedrich Engels, publicado pela primeira vez em 1848, para apontar que nesta vida moderna tudo que parecia estável, está em rápida transformação.
Um exemplo destas transformações do espaço urbano é a Paris que se reestrutura no século XIX. Ela se tornou a Paris que conhecemos hoje e tornou-se modelo para diversas cidades no mundo, incluindo o Rio de Janeiro.
Nosso poeta expandido nos apresentou características da poesia moderna, através de nove poemas.
A apresentação começou com A um poeta de Olavo Bilac, que era um poeta parnasiano. Para Olavo Bilac, o ato de escrever deveria ser realizado em um local isolado, “longe do estéril turbilhão da rua”, afastado do movimento, da simultaneidade e dos sons que são produzidos na rua, que deveria ficar escondida. A relação que este autor mantém com seus leitores é agradável, ele quer agradar quem está lendo seu poema.
Já no poema, Nova Poética de Manuel Bandeira, que era um autor modernista, temos a rua como uma forma de experiência. O poeta não está isolado, está na rua. A relação que estabelece com o leitor também é diferente. A arte moderna estabelece uma relação de provocação, onde o leitor é estimulado a pensar, a fazer uso de sua sensibilidade, uma vez que, a arte não está a nossa espera. Temos que correr para alcançá-la.
Em Bonde de Oswald de Andrade, a poesia moderna se mostra como novidade. Ela não vai trabalhar com aquilo que já está codificado. O leitor tem varias possibilidades de interpretação. Outra característica desta poesia é a capacidade de síntese, uma grande quantidade de informações, em poucas palavras.
Com o Poema de sete faces de Carlos Drummond de Andrade, temos a percepção de como o poeta moderno, nunca se sente integrado ao mundo ao mesmo tempo em que consegue rir de si mesmo.
No poema Catar feijão de João Cabral de Melo Neto, temos a união de duas ações que parecem impossíveis de andar juntas: o catar feijão e o fazer poesia. Ao contrario da poesia parnasiana que fala de afazeres sofisticados como o do ourives, a poesia moderna trás atividades tidas como sem importância para o foco. O poema defende que a arte não deve ser passiva. Com “a pedra dá a frase seu grão mais vivo”, o autor está colocando que a boa poesia não é a que flui, mas, o que faz o leitor ruminar o texto, com cuidado, preocupado com a pedra, com o obstáculo.
Em seguida o professor apresentou dois poemas de Ferreira Gullar; Poema e Cantada. No primeiro o autor surpreende pela estrutura com que organiza o texto, permitindo uma leitura tanto na horizontal, como na vertical, sem fazer uso de pontuação. É um poema que evoca a visão do azul e que deseja ser uma pintura. Já no segundo, a escolha dos objetos com que o autor compara a mulher chama nossa atenção. Trata-se de uma forma nada convencional de se dar uma cantada. E ao final nos surpreende como um poema político quando coloca que esta mulher “é quase tão bonita quanto a Revolução Cubana”.
Eucanaã terminou sua aula com a apresentação de Velocidade de Ronaldo Azevedo, que não é um poema que fala sobre velocidade, ele quer ser a própria velocidade. Quer que se olhe para ele e se possa sentir a velocidade através da palavra. É um poema de grande impacto visual, onde a palavra é explorada como se fosse uma imagem. Ela surge no poema aos poucos.
A poesia moderna é uma experiência que tenta descrever através das palavras a experiência do mundo moderno. Eucanaã Ferraz finalizou sua aula com um conselho: Devemos correr o risco de mastigar as pedras, para poder vivenciar experiências novas.
Raquel Lima. Bolsita PIBEX. UFRL-FM-TO