Texto escrito por Pedro Diego Rocha
A Universidade das Quebradas marcou presença na V Jornada de Extensión Del Mercosur (JEM), que aconteceu nos dias 19 e 20 de maio na cidade de Tandil, em Buenos Aires, Argentina. Estiveram presentes como representantes a assistente pedagógica da UQ, Renata Codagan e a coordenadora de Inovação Social e Empreendedorismo da Agência Inovação da UFRJ – instituição parceira da UQ -, Iris Mara Guardatti. Em entrevista para nosso site, elas contam como a experiência da primeira viagem internacional das Quebradas para um evento deste tipo e quais foram as suas avaliações do encontro.
Criada em conjunto pela Universidade Nacional da Província de Buenos Aires (UNICEN) e Universidade de Passo Fundo (UPF), do Rio Grande do Sul, esta conferência tem promovido, nos últimos cinco anos, o progresso nas discussões, resoluções e estudos em rede para este cenário educacional na América do Sul. Seu objetivo é consolidar a inclusão social e estudo de políticas públicas que trabalhem o desenvolvimento sustentável. A sede das JEM alterna anualmente entre Brasil (onde acontecerá a edição de 2017) e Argentina.
Iris Mara explica como se deu a participação da UQ na jornada, organizada por eixos temáticos e apresentações em mesas de debate e painéis, entre outras atividades, que aconteciam simultaneamente, com uma proposta inovadora, fora dos padrões dos congressos. “No primeiro dia, participamos do eixo “Educação, comunicação e cultura”, na mesa ‘Educomunicação’. Fizeram parte desta mesa aquelas práticas e ações sistemáticas orientadas a recuperar a cultura local, fomentar os espaços de educação popular e promover propostas que garantam o exercício do direito a comunicação, com especial ênfase nas práticas de comunicação comunitária e popular”.
No segundo dia de JEM, a dupla brasileira esteve no eixo “Extensão e docência: do território aos currículos”, na mesa “integralidade das funções universitárias”. “Foi um espaço de debate, reflexão e compartilhamento das iniciativas de diálogo entre as funções da extensão e a docência na direção dos conteúdos que atravessam os territórios e, portanto, o campo da extensão. É neste eixo que o nosso trabalho estará nos anais do evento”, comentou a coordenadora de Inovação Social e Empreendedorismo da Agência Inovação da UFRJ.
Performance durante evento causa reflexão sobre universidade e cidadania
Renata contou que a jornada tinha muito mais argentinos do que brasileiros, estes com forte representação da UPF, além de mais um grupo da UFF e outro da Unicamp. Pelo formato de diversas apresentações acontecendo ao mesmo tempo, não foi possível acompanhar toda a programação. Mas, elas aproveitaram o máximo de propostas e o que pôde ser vivenciado foi de bom efeito em diversos aspectos, descreveu Renata. Na mesa de trabalho da qual elas participaram houve um esquete teatral de uma integrante, no papel de uma aluna da UNICEN pobre com dificuldades médicas e de se manter nos estudos, história próxima às que são vistas no Brasil.
“Isso trouxe uma discussão do sucateamento da educação e das ações de cidadania. Este teatro fórum acabou mobilizando as pessoas emocionalmente com a personagem que até chorou, num relato também da moça que estava ali”. Durante sua fala na mesa, Renata sugeriu a todos juntos a criar uma intervenção diante do que foi visto, uma carta a ser enviada aos órgãos competentes para falar dos problemas ouvidos por eles. A atividade em si causou impasse no grupo todo: uns queriam continuar o debate sobre os trabalhos e outros acharam insensível o fato de não pensar sobre o estado da história. Estes últimos escreveram a carta, lida durante a relatoria das mesas. Um momento de discurso real e reflexão para todos os presentes.
Em relação ao tema (a importância da extensão) de uma das mesas em que elas estiveram, Renata apontou um dado interessante. Ao analisarem as formas de abordagem dos deveres deste tipo de ensino social tanto no Brasil quanto na Argentina, ela e Iris consideraram que por aqui, este processo está mais adiantado. “A gente achou até que nós da UFRJ, não sei se podemos dizer Brasil, porque havia gente de Passo Fundo lá, mas achamos que aqui no Brasil estamos um passo à frente. A discussão não é mais que a extensão é importante ou qual a função dela. Eu era uma pessoa da extensão, de um projeto, fora da universidade, não sendo aluna nem professora e participei deste congresso. Achamos que estamos avançados neste processo da função da extensão”, afirmou ela.
Segundo Iris Mara Guardatti, estar em um evento que reúne diversas universidades, pessoas e experiências é, sem dúvida, uma oportunidade muito rica de aprendizado e troca. “Para a UQ, em especial, acredito que o ensejo de conhecer formatos e processos subjacentes às experiências de diálogo entre saberes populares e acadêmicos no território latino-americano ampliaram o nosso olhar de possibilidades e estudos. Foi muito interessante perceber o quanto a proposta da UQ é inovadora neste contexto”.
Ela ressaltou que a participação de Renata Codagan foi emblemática neste sentido, uma vez que a construção metodológica das Quebradas se revelava ali, verdadeiramente na prática. Quanto às ideias para novas iniciativas na UQ surgidas após a experiência, Iris comentou que se pensa na possibilidade de receber alunos visitantes oriundos dos países na América Latina e organizar eventos de trocas latinas.
“A gente sabe que a extensão é uma obrigação acadêmica”
Já Renata classificou como simbólica a atuação da UQ na JEM, pois foi a primeira vez que um quebradeiro fez uma viagem internacional. Em relação às lutas por maior visibilidade e prestígio dentro do campo educacional, ela também frisou como passo político importante o fato pioneiro de a academia financiar a ida de uma pessoa que só tem um vínculo com a extensão para uma representação fora do país. “Politicamente, dentro da UFRJ, a gente vai fazendo um histórico importante de conquistas. A gente tem muitas discussões em torno da extensão, sabe que é uma obrigação acadêmica. Percebemos na Argentina uma visão assistencialista do olhar do acadêmico para a comunidade”.
A assistente pedagógica da UQ finaliza relatando que notou muitas semelhanças entre os dois países. “Vimos uma Argentina com economia dolarizada, com o peso não valendo nada, com questões muito próximas do que se vive aqui. Você ia vendo nas ruas, quanto mais no Centro, nos lugares mais valorizados, só pessoas brancas. Conforme você via a aproximação de bichas, que são as favelas, você via as pessoas com a cara mais indígena, mais andina, pobres. A mesma coisa aqui: tu tá na Zona Sul, tu vai ver branco. Chega na favela, você vai ver negros, muitos negros. Muitos aspectos econômicos e sociais próximos da gente. Precisamos ter mais do que um bloco comercial no Mercosul. Acho que a gente pode ser uma força muito grande como bloco pela democracia no Hemisfério Sul. O que está em jogo é a democracia pelo mundo”.