A Desconstrução do Carnaval por Marcio Rufino
Durante a semana, quando soube que a aula seria sobre carnaval, passei o tempo todo me lembrando do carnaval de minha infância, quando eu e um primo meu éramos fantasiados de índios norte-americanos por nossas respectivas mães. A aula de Fred Góes procurou desconstruir o conceito de carnaval, quanto manifestação primitiva, oriunda dos ritos de colheita e das mudanças de estação da antiguidade, focalizando-a como produto próprio de sua própria terra.
Divertido e irreverente, Fred parecia um cientista maluco nos propondo entrar numa máquina, ou melhor, num corso (carro enfeitado de flores, muito usado no carnaval do início do séc. XX) do tempo que nos levaria até os tempos da Colonização, quando os degredados de Açoures e da Ilha da Madeira trouxeram o entrudo – brincadeira onde se atiravam pó de mico, farinha, água de cheiro, água fétida e limão de cheiro uns nos outros.
As imagens de Jean Baptiste Debret mostrando o que seria o entrudo do séc. XIX; das ruas do Centro da Cidade na virada do séc. XIX para o XX; do entrudo doméstico realizado nos lares pequenos burgueses do Período Imperial; e dos desenhos de Raul Pederneiras exibidos no telão, além de fotos antigas do arquivo familiar de Fred, passou diante de nossos olhos como um filme onde nós mesmos atuávamos como personagens principais.
O carnaval é uma festa dinâmica, sempre sujeita a constante transformação e mudanças. Sempre influenciada pela Europa, pelos terreiros de candomblé, pela elite, pelo povo; ela toma seus atuais contornos na primeira metade do séc. XX com as primeiras marchinhas e com as fantasias de inspiração européia.
Mesmo com a tentativa de desconstrução de Fred, o conceito de carnaval como necessidade primitiva e milenar, onde o homem procura a todo custo transcender a si mesmo, continua persistindo na minha cabeça. Irmão do teatro e das festas de rua, o carnaval é a festa de translação da terra onde o ser-humano pode ser tudo e anda ao mesmo tempo; pode ser misturar com o outro e ser integrar a sua própria maneira ao cosmos, exaltando seu direito de comer, de beber, de amar e ser feliz.
Carnaval por Denise Lima
Meu gozo foi cerceado,
lacrado no cimento da Sapucaí.
Mas sou rebelde e não me dei por vencido.
Malandro, escorreguei para a Lapa e para as ladeiras de Santa,
me espalhei no centro do Bola Preta,
até em Copacabana pulei com o meu Peru Cansado!
Não quero mais que me roubem as mulatas roliças,
o Bloco das Piranhas, o estigma do Clóvis!
Meu samba é de rua e de preto, me respeitem se eu for ao seu salão!
Carnaval por Rogéria Reis
Essa aula me fez lembrar dos antigos carnavais que brinquei, tanto em clube como em blocos. A família toda participava. Havia uma rivalidade gostosa com outros blocos e um tal de Jorge “Borracha”, que descobrimos, era um espião. Se infiltrou para copiar modelos das nossas fantasias, toques e evoluções da bateria, essas coisas. Jorge era uma figura hilária. Negava tudo e sentindo-se muito injustiçado com as acusações repetia para todos que estava em um lago de crocodilos. Tempos gostosos.
Meu pai e meus irmãos faziam parte da bateria, eu era passista e minha mãe foi a rainha do bloco. A direção do bloco ficou de providenciar a fantasia da rainha e sua ida ao salão de beleza. O cabelereiro também era integrante do bloco e enciumado cortou o lindo e longo cabelo da minha irmã, curtíssimo. A indumentária da rainha não saiu e minha mãe teve que providenciar às pressas uma fantasia para a minha irmã. Minha mãe saía na ala das baianas e era uma gozação geral, pois eram bazofiadas e chamadas de “meia-roda”, ou seja não conseguiam dar a volta inteira nas evoluções. Ríamos muito…
Mas lembranças à parte, o Fred Goés demonstrou perfeito domínio do assunto. Foi uma aula divertida e esclarecedora. Só não concordei quando ele disse, que as igrejas evangélicas proíbem as senhoras de desfilarem na ala das baianas. A filiação à igreja como membro ou o desligamento dos mesmos, são voluntários. No caso da filiação recebe-se orientações quanto aos usos e costumes da mesma. Toda igreja possui as suas regras de fé e prática, que são compatíveis com as leis do país. Uma vez aceita, as regras devem ser seguidas. O que não difere das outras religiões que também têm seus usos e costumes. Do surgimento do protestantismo até os dias atuais percebe-se heterogêneos preceitos dogmáticos, pois cada denominação faz a sua própria interpretação da bíblia e muitas vezes os pontos discordantes são mais evidentes do que os concordantes. Discordei de um quebradeiro quando o mesmo fez um trocadilho se referindo à Igreja Renascer em Cristo como “Enriquecendo em Cristo”. Uma vez que maus obreiros encontramos em todos os segmentos religiosos e ainda que o pensamento capitalista venha influenciando todas as religiões, existem os que exercem com sinceridade e idoneidade a sua crença. É necessário que preservemos o respeito uns às crenças do outros.
Sou evangélica e acho linda essa diversidade de manifestações culturais, incluindo as religiosas. Para se ter uma ideia sou fascinada por Folia de Reis e não me seguro de emoção quando ouço o som de uma cuíca ou de uma bateria inteira em execução. Alô meu povo quebradeiro! A Hora é essa! Vamos quebrar tudo! Fora toda intolerância religiosa!
Foto: mimoes