Texto escrito pela Quebradeira Cristina Hare
RETRATO FALADO, Ipanema, quarteirão da Visconde de Pirajá, esquina com a Jangadeiros, domingo, 22:15h:
3 amigas, cabelos pintados de louro, salto alto e vestido do tipo embaladas a vácuo. Shape de academia. Perfume forte. A mesma cara, parecem trigêmeas, apesar da grande diferença de idade entre as três. Talvez sejam avó, mãe e filha. Aguardam o Uber.
3 catadores de latinhas, comemorando o saldo dos blocos. O mais alto se gabando de ter acumulado mais “material”. Os outros nem dão ouvidos e se movem sem nenhuma vontade de estabelecer concorrência.
5 foliões, embora ainda não seja carnaval, supostamente remanescentes do bloco que passou há mais de 5 horas atrás: Um unicórnio, com o córneo na mão. Dois piratas. Uma enfermeira e uma batgirl. Estão aparentemente alcoolizados e apresentam um sorriso metálico estampado permanentemente no rosto.
2 rapazes se beijando apaixonadamente, encostados ao muro da farmácia, que não funciona mais por 24h. O de barba está apertando o de azul contra a parede com força.
Algumas pessoas passeando com cachorro. Elas se socializam, como mães na porta do colégio. Um casal está discutindo sobre a propriedade nutritiva das rações e seus efeitos sobre o cão.
1 porteiro fumando, na frente de um prédio, como se estivesse de férias. Sopra a fumaça pro alto e balança a cabeça, concordando sabe-se-lá com o quê ou quem, uma vez que não há ninguém próximo a ele.
EU (voltando do teatro) observando e listando pessoas. Admirando o DIRETOR, que tem uma imaginação invejável pra criar tanto personagem.
#hareobserva