Sobre o Hotel da Loucura- por Edmar Oliveira

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No meio das trevas ainda existe uma luz, assim define o quebradeiro Edmar Oliveira o espaço intitulado Hotel Spa da Loucura, idealizado pelo médico, educador popular e ator Vítor Pordeus, localizado no Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio, no antigo Centro Psiquiátrico Pedro II, hoje Instituto Municipal de Atenção a Saúde Nise da Silveira, que faz referência à memória da grande psiquiatra que revolucionou a forma de se tratar a loucura e a disfunção psíquica.

Nise da Silveira definia a loucura como uma condição de sofrimento mental, e foram essas experiências de cunho positivo que levaram o espaço a abrigar hoje, no terceiro andar, o Hotel da Loucura, abordando a arte como um processo no tratamento. Já presenciando resultados positivos na melhora de muitos clientes/pacientes como um processo de transformação da realidade social. As cores nas paredes, as poesias, as pinturas, ou melhor, o grafite, dão o tom na ala do prédio denominado Casa do Sol.
A minha experiência se iniciou quando uma amiga me falou de um médico envolvido com arte. No início não demonstrei interesse pelo que ele desenvolvia. Continuei meus estudos sobre o abandono, a relação desse abandono com o afetos e a formação de um indivíduo no meio social. Depois surgiu a oportunidade de fazer uma oficina teatral com o médico envolvido com arte. Após algumas experiências, fui conhecendo a pessoa de quem tinha ouvido falar, com um sobrenome muito forte, Pordeus, de uma forma catalisadora que me prendia a todo instante.

Depois de meses na oficina de teatro e loucura, fui conhecer o espaço no Engenho de Dentro. As descobertas foram surgindo e o interesse pela sua experiência aumentava o meu desejo de conhecer e estudar sobre a mulher a quem Vitor Pordeus reverenciava com toda a magia, e sua forma de ser e estar: Nise da Silveira. Em seguida vieram outras referências e as leituras intensas de Baruch Spinoza, Nélson Vaz, Amir Haddad, Paulo Freire, Humberto Maturana, Antonin Artaud para que eu pudesse captar e entender com total domínio o que Vítor Pordeus colocava nos seus posicionamentos como agente de transformação e incentivador do meu desejo de conhecer o Hotel da Loucura. Antigamente seria impossível entrar num recinto desses, as pessoas eram excluídas do meio social, e isso só foi possível após a chamada reforma psiquiátrica.

A partir dessa experiência fui rodeado de palavras, tocadas e sentidas na expressão do ser. As expressões artísticas foram me consumindo, fui tomado pela música, pela poesia e pelo teatro, foi surgindo na minha vida a Upac – Universidade Popular de Arte e Ciência, laboratório tupi-nagô de pesquisa artística e cientifica. Convido as Quebradas a conhecerem este espaço, onde já recebemos tantos outros. Podem entrar e fiquem à vontade.

 

Foto de Sandra Lima