Um quebradeiro no Caribe, por Tetsuo Takita

A Colômbia é um país da América Latina que possui um povo muito parecido com o brasileiro: alegre e festeiro. A capital Bogotá fica a 2700 metros acima do nível do mar, sendo a quarta maior cidade da América do Sul e a vigésima do mundo.

Fiquei encantado com a Isla de San Andrés, que é a maior das ilhas que formam parte do Arquipélago de San Andrés, Providencia e Santa Catalina, que tem uma área total de 26 km². A ilha pertence à Colômbia desde 1803, quando a Espanha a anexou política e administrativamente ao então Vice-reino de Nova Granada por meio da Real Ordem de San Lorenzo, de tal maneira que quando este território se emancipou em 1819, as ilhas foram anexadas de imediato à atual Colômbia.

Há alguns anos, a Nicarágua reclamou a soberania desta e de outras ilhas adjacentes, porém a Corte Internacional de Justiça decidiu pela soberania total do arquipélago à Colômbia em 19 de novembro de 2012.

San Andrés está localizada no mar do Caribe, a cerca de 191 km a leste da Nicarágua e a noroeste da Costa Rica e 775 km a noroeste da costa da Colômbia. Está relativamente próxima também da Jamaica. Com 26 km² de área, é a maior ilha do arquipélago. A Ilha de Providência, a segunda maior, está situada a 80 km a noroeste.

Alguns acidentes geográficos da ilha são: Ilhotas: Santander (Cotton Cay); Rocoso (Rocky Cay); Aquário (Rose Cay), esta última tive a oportunidade de visitar e é linda. Realmente parece um aquário natural onde você pode nadar com os peixes e eles, de tão habituados com a presença humana, vêm comer em nossas mãos; Córdoba (Haynes Cay) e Sucre (Johnny Cay), nome dado devido à lenda de um pirata negro que viveu ali – o verdadeiro pirata do Caribe.

Esta ilha possui um sistema educacional exemplar, no qual as crianças aprendem na escola Inglês e Espanhol, além do creoule, um dialeto local passado de pais para filhos. Os caiçaras são os habitantes nativos da ilha e são 100% negros. O prato típico da região é o Rondon, que leva carne de porco, aipim, banana da terra, caramujo e leite de coco, além de outros temperos (uma delícia!). A cultura local tem suas raízes no reggae e no wraga wraga.

Uma interessante coincidência foi eu estar na ilha no dia de uma marcha tradicional na qual a juventude islâmica desfila em apoio ao governo e, ao contrário do que acontece aqui, manifestam sua alegria e satisfação. Foi emocionante presenciar isto!

Numerosos povos têm contribuído para a formação da cultura raizal (como se chama a cultura do arquipélago) como os africanos, os britânicos, os escoceses, os holandeses, os irlandeses, os franceses, os espanhóis e os próprios colombianos. Sobretudo três personalidades participaram da história do arquipélago de maneira muito particular: o Pirata Morgan, que fez as operações de comando central nas ilhas do Mar do Caribe; o primeiro governador espanhol (filho de pais irlandeses), Tomás O’Neille; e o francês Luis Aury, que apoiou as causas da independência das ilhas em toda a bacia do Caribe, desde o Texas até a Colômbia.

Ao sul da ilha está San Luis, um povoado raizal, que agora também possui estabelecimentos turísticos. Um costume local que achei lindo é o dos familiares dos mortos serem enterrados no próprio quintal da casa deles.

A ilha vive do turismo. E diz-se que em San Andrés só se produz três coisas, que são a riqueza do lugar: coco, homens negros e mulheres negras.

As peças que achei mais interessantes no Museu da ilha foram um quadro com os nomes das primeiras famílias e uma ferramenta de beleza feminina do início do século passado, que lembra uma prancha de alisar cabelos.

A população nativa raizal conseguiu o reconhecimento da sua identidade e direitos fundamentais na Constituição da Colômbia de 1991. A sua língua, o Inglês Crioulo de San Andrés, kríol ou creole english, é reconhecido como o oficial no arquipélago desde a data da Constituição. Também se estabeleceu a liberdade e igualdade religiosa. Encontrei na região até mesmo uma mesquita árabe em pleno funcionamento.

O clima da ilha é quente, oscilando entre 26 °C e 29°C e predominam duas estações: verão e inverno. Os ventos ajudam a aliviar um pouco o calor, geralmente soprando a leste, menos se houver tempestades no Caribe, quando os ventos sopram fortemente a noroeste.

O lugar é mágico e paradisíaco! Há uma praia chamada Del Paraíso, mas um dos problemas que mais aflige os habitantes é a superpopulação, que ocorre principalmente pela imigração a partir da Colômbia continental, motivada fundamentalmente pelo estabelecimento da figura de Porto Livre para San Andrés concedida pelo governo de Gustavo Rojas Pinilla, em 1953, com o intuito de dinamizar a economia da ilha e atrair turistas.

Para este problema, e para evitar mais problemas sociais e econômicos como a pobreza, o governo limita a quatro meses o período de estadia na ilha a trabalho. Para ficar mais tempo na ilha só casando com um hijo (filho ou filha) da ilha. Todos na ilha têm um transporte, que geralmente é uma motinha tipo Biz. Uma curiosidade é que eles andam sem capacete porque a velocidade permitida é muito baixa, no máximo 40 km por hora.

Uma atividade que recomendo é andar de buseta, que é como aqui são chamados os ônibus, geralmente micro-ônibus, que levam os nativos. Cada buseta é personalizado conforme o gosto do motorista e costumam ser cheios de enfeites e penduricalhos por dentro, tocando músicas típicas locais.

A geologia de San Andrés indica que a sua formação é devida à erupção de um antigo vulcão que lançou pedras do fundo do mar para a superfície, criando a maioria das ilhas. Além disso, a ilha é limitada a oeste por um pequeno recife de cora e por diversas ilhotas que abrigam variada fauna e flora marinha.

Vida longa a esta ilha e aos bravos nativos que a preservam!

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Tetsuo Takita é quebradeiro da 2a ediçãoo da UQ.