Para entender a cultura digital, é preciso entender o funcionamento dos softwares. Sobre isso falou nossa querida Heloisa Buarque na aula de terça passada, nas Quebradas. Segundo ela, é perigoso pensarmos que o fato de estarmos na era do software é natural, pois se não entendermos a lógica do software com que lidamos, correremos o risco de perder nossos documentos virtuais. “Se um dia o ‘.doc’ acabar, estarei na merda, pois tudo o que escrevo é salvo em ‘.doc’. Eu o uso como se ele fosse eterno, mas não é!”, afirmou.
Hoje o acesso ao conhecimento é tão levado a sério, que vivou um campo do Direito americano. E a cultura digital é a cultura do acesso, que chegou para ficar. Mas devemos lembrar que, ao contrário do que dizem os apocalípticos, a chegada dessa cultura responde a uma demanda social, e não necessariamente anulará as outras pré-existentes. “Toda tecnologia causa impacto, mas não anula as outras. O cinema não acabou com o teatro e a TV não acabou com o cinema. Com o surgimento de novas tecnologias, no entanto, cria-se um espaço de experimentação para as mídias mais antigas. Foi assim que surgiu o Cinema Novo, em um contexto de implantação da Televisão no Brasil”, ratificou Helô.
A professora também falou sobre a questão da autoria, lembrando que ela surgiu com as revoluções burguesas e se tornou, também, uma máquina de fazer dinheiro (Loi d’Auteur). Na cultura digital, a autoria se tornou um impasse. A convergência, ou seja, a troca de metodologia e conteúdo entre diferentes mídias e/ou linguagens, pode também trazer problemas para os que exigem seus direitos autorais. Com a cultura do Remix, fica difícil separar pirataria de mistura criativa. E o cenário das comunidades do conhecimento (copy left), das criações coletivas do ‘Creative Commons’, tem prevalescido cada vez mais em relação ao expertise individual (copy right). As quebradas exprimem exatamente isso: a mistura de saberes que juntos criam um saber novo.
Neste contexto, o Quebradeiro Tetsuo citou durante a aula sua invenção e autoficção biografada, inspirada na aula da Helô que participou em 2010, durante o projeto Apalpe – A Palavra da Periferia. A estória envolve 2 personagens e é contada pela troca de e-mails entre eles. Os leitores podem interagir com os personagens, o casal Tell & Lu, que têm como objetivo ajudar jovens que passam por algum romance mal resolvido. Este blog também fez parte do Grupo de Trabalho sobre o tema saúde mental do 1° Encontro Brasileiro de Diversidade Cultural.
Mais do que uma aula, Helô nos proporcionou uma abertura de caminhos. A partir de suas considerações provocantes, pudemos entender o novo universo que se abre ao nosso favor. É verdade que já existem tentativas de teoriza-lo. Mas entre teoria e prática, há um grande abismo em nosso país. Ainda não conseguimos compreender esse momento porque ele ainda está sendo vivenciado. E a professora Buarque soube traduzir esse universo de forma vanguardista. Segundo as palavras de Amara, “a Helô tem uma capacidade visionária de antecipar coisas importantes que acontecem no mundo. As pessoas dizem que ‘cultura digital’ é isso que já existe. Ela diz que não, que isso é apenas o início de algo que está por vir”.
Confira o material apresentado:
Texto: Cibele Reschke de Borba, bolsista PIBEX 2011