Qual a função da Universidade?

O melhor comentário da semana surgiu no post Pós aula: MC Marechal. O quebradeiro Fernando Chagas fez uma reflexão sobre a função da Universidade.

Participar da Universidades das Quebradas tem despertado boas reflexões, uma delas é qual a função da Universidade? Respondo assim:
A Universidade serve para gerar conhecimento. Mas percebi na minha resposta que faltavam para quem e em qual nível deveria ser essa produção intelectual. Sobre a Universidade, deu-se ao longo da história e se enraizou em nossa cultura um status de lugar máximo de produção de conhecimento e de ascensão social, como se apenas ali se desse os saberes úteis para sociedade.

A partir desse raciocínio e da realidade do nosso país, podemos observar o quanto a Universidade é afastada das comunidades periféricas e dos grupos de resistência cultural. E essa percepção é clara quando vemos ainda hoje a luta para inclusão dos grupos menos favorecidos em uma educação de nível superior. Note-se isso nas políticas públicas de cotas, de financiamentos e de interiorização das universidades.

Parece-me que a UQ vêm justamente cumprir uma função de humanizar ou aproximar o mundo erudito do popular tendo em vista que a Universidade tem realizado ao longo do tempo suas atividades em desnível com o anseio social. Muito mais do que resolver problemas sociais, vejo na UQ um espaço fantástico para que de fato se tenha a construção do conhecimento atrelado às realidades culturais da sociedade, e isso não exclui a formalidade do conhecimento e que ele se torne político, e necessariamente precisa-se que sejam os dois.

Todas essas questões apareceram no último encontro realizado no dia 18/09/2012. Após aulas maravilhosas com professores renomados, pós-doutores quase que figuras artísticas de tanto reconhecimento que possuem, nos deparamos com uma aula magna realizada pelo MC Marechal. Sem meios termos ou uma conduta academicamente correta, Marechal conduziu de uma forma inquestionável a aula nas universidades das quebradas. Não ostentando nenhum titulo ou formação regular, ministrou, articulou, lecionou de uma forma a dar inveja às autoridades da docência. Calmo, sereno e altamente generoso intelectualmente o MC deu-nos uma percepção visceral de nossa sociedade, falou sobre valor humano, engajamento social, política, história e como as forças e poderes se organizam em torno de uma mídia pasteurizada e nada útil.

Com o entusiasmo da aula e arrebatado com a força direta com que fui tocado, imaginei se não deveriam ser assim as aulas em todos os lugares, se não deveriam ser assim os professores, não quero aqui despor do conhecimento teórico a favor apenas da prática e do empírico, quero aqui salpicar as aulas burocráticas e lentas de um tempero que só existe numa prática de vida por vezes necessariamente informal, se não nos pegaremos a repetir feito papagaios aquilo que aprendemos no mundo silencioso das teorias, pensando isso ser uma virtude.

Não é um adjetivo apenas dos níveis mais simples de ensino a fragmentação do saber. A Universidade vive como o mercado, divida em espaços de produção, aqui se gradua, lá se especializa, um pouco a esquerda se pesquisa, é tudo fracionado. Essa educação mais silencia do que cria novas vozes. A periferia precisa ter voz na academia, o erudito precisa rasgar o orgulho e se encharcar de vez do popular e isso de fato se dará quando aqueles que sentam para ouvir, puderem se apoderar do espaço de discussão e transformarem-se nos responsáveis pelo conhecimento. A UQ é um espaço de assimilação e inserção, muito mais que uma UNIversidade mas uma MULTIversidade comunitária e se assim não for o movimento dessa onda continuaremos a reforçar o espaço de extensão em exercício de ensino e pesquisa e a UNIversidade como o único e exclusivo lugar do saber.

abraço quebrado a todos
fernando chagas