O dia em que a cidade parou – por Antônio Xaolin

O dia em que a cidade parou – Conto literário de Antonio Xaolin

Uma adega em uma favela no Rio de Janeiro, um ambiente de encontros da juventude
de toda a cidade na maior integração entre morro e asfalto.

Sempre as sextas-feiras a casa ficava lotada de jovens que bebiam vinho, vinho de abacaxi, vinho de pêssego, vinho de morango, sucos e latinhas de cerveja. A provinha dos vinhos de frutas em copinhos de 60ml era a sensação, de graça, e um de cada sabor. Paquera correndo solta ao som de violão, roquenrol no CD, pagode e samba. Era assim que a juventude se divertia e se encontrava nos fins de semana à espera do baile no Clube Pancadões, onde o funk era o chamariz para mais uma noite de prazer e alegria. As meninas de cabelos arrumados e unhas bem-feitas, vestidas de calça bag, roupa da moda, sorriam e olhavam para todos os lados à procura de mais alguém. Os meninos ofereciam uma jarra de vinho aos amigos, e as moças sorridentes compartilhavam alegria, porque o vinho e a Adega charmosa mexiam com o imaginário de todas as pessoas.

O primeiro aniversário da Adega foi embalado por música ao vivo, com um festival de bandas, com muito roquenrol, porque o proprietário gostava mesmo era deste estilo de música, e muito reggae, MPB, pop… Parece cocaína, ah, ah, mas é só tristeza, muitos temores nascem do cansaço e da solidão… O local era frequentado por surfistas, skatistas, parapentes, esportistas radicais, jogadores de futebol e até o saudoso e glorioso Chorão, vocalista da Banda Charlie Brown Jr., apareceu por lá e deu uma canja:

Dias de luta, dias de glória

“Canto minha vida com orgulho
Na minha vida tudo acontece
Mas quanto mais a gente rala, mais a gente cresce
Hoje estou feliz porque eu sonhei com você
E amanhã posso chorar por não poder te ver
Mas o seu sorriso vale mais que um diamante
Se você vier comigo, aí nós vamos adiante.”

Ambiente lotado e escuro, pessoas saindo pelo ladrão e se esbarrando pela estrada afora, atrapalhando o trânsito e as calçadas. Muita doideira e diversão, com muito respeito e sabedoria. Porque o proprietário não admitia que extrapolassem o limite das regras. E assim a favela vivia os finais de semana, com a Adega sempre cheia de gente bonita, de todos os lugares do Rio de Janeiro.

Era Semana Santa, clima de feriado, a Adega recebendo seus jovens, alegria geral, sorrisos e mulheres lindas a conversar com seus pares e amigos. Namorados se beijavam ao som de Renato Russo… É preciso amar ah, ah, as pessoas como se não houvesse amanhã… E as jarras de vinho iam de mesa em mesa para deleite dos consumidores do vinho doce e satisfação do proprietário, que ia às mesas cumprimentar os amigos e clientes.

Pá, pou, pá, pou, tatatatata. Que é isso? Pipoco? Tiros? É aqui dentro? Não! É lá fora! Mas tá muito alto!

Corre-corre, muito barulho, todo mundo falando ao mesmo tempo, e gente correndo para tudo quanto era lado.

— Fecha a porta, porra, alguém grita! O funcionário da Adega se apressa e baixa a porta de aço rapidamente, rangendo e fechando. Os tiros continuam junto com barulho de carro acelerado. Vruummmmm! Pá, pá, pá, tatatatata, pá, pá…

— Alô, Rua 21, o que tá acontecendo? Ouvi muitos tiros. Fuzil, pistola! É, porra! Caralho! Tô aqui na Adega do japonês! Tem carro passando acelerado, caralho! Ninguém sabe de nada? Tiro adoidado, não tá ouvindo, porra?

O barulho cessou e a Adega, agora quase vazia, com poucas pessoas. Todo mundo calado. Dava para ouvir os pensamentos!

Trimmm, todos se assustam com o celular tocando…

— Alô! E aí? Estou na Adega, não vejo nada, a porta está fechada e o japonês não vai abrir!

Mais tiros, tatatatatá, pou, pum, pá, pá, paá, tatatatata!

— Porra, cara, tá todo mundo aqui com medo de levar um tiro. E aí? Tá todo mundo a postos? Mas ninguém sabe o que tá acontecendo?

Depois de um longo tempo os tiros cessaram e todos que estavam na Adega permaneceram mudos e assustados.

Silêncio na favela. Não se ouvia um ruído. Não se ouvia nem pensamentos.

Japonês resolve ir até a porta.

— Não abre essa porra não japonês, quer fuder a gente?

Japonês olha para trás e percebe dois malandros com pistolas na mão, nervosos e na defensiva. Mais ao lado, um casal abraçado, não se descolava um do outro. Embaixo da mesa uma jovem, solitária e encolhida, rezava um Pai Nosso e a Ave Maria. Do outro lado, outro casal tentava se controlar, e pediu uma jarra de vinho. Japonês e o empregado tentavam acalmar a situação.

— Mantenham a calma pessoal! Já, já saberemos o que está acontecendo!

— Ninguém vai sair, vamos ficar aqui até o dia amanhecer, disse um dos malandros que parecia o chefe.

— Mas ainda é uma hora da manhã!, falou o japonês.

— Não quero saber, porra!, disse o malandro.

— Japonês, tem um barril vazio onde eu possa esconder a pistola, porque essa porra aqui (mostrando a arma) não vale de merda nenhuma contra um fuzil, e a gente nem sabe ainda quem está atirando, se amigo ou inimigo!

Pá, pá, pou, tatatatata. Susto geral!

— Ai meu Deus do céu! Ave Maria cheia de graça, o senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre Jesus. Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, na hora de nossa morte, amém! Todos ouviram em silêncio a oração rezada pela jovem que continuava debaixo da mesa. Alguns até fizeram o sinal da cruz.

— Japonês o que vamos fazer?, perguntou o malandro.

— Deixe-me pensar, respondeu o japonês.

E assim o tempo foi passando, com todos calados, e de vez em quando tiros ecoavam distantes e com intervalos maiores.

— Faz o seguinte, falou japonês, liga lá pra Rua 21, e pergunta o que se passa!

— É mesmo, tinha até esquecido do celular! O malandro liga o celular:

— O que tá havendo no morro, cara? Eu tô preso aqui na Adega, não sei de nada! Tá bom, vamos aguardar.

Murmúrio na Adega.

— Silêncio gente, toma um vinho aí por minha conta pra relaxar, disse o japonês.

— Relaxar que nada, quem vai relaxar com esse montão de tiro e sem saber o que está acontecendo, não fode!

— Caralho, tô fudido, tô começando a ficar com medo, minhas pernas estão tremendo, nunca senti isso na vida, disse o comparsa.

— Medo porra nenhuma, vai se fuder! Na hora da cobra piar tu vem falar de medo! Vamos esconder as armas e fingir que somos clientes comuns da Adega. Se for a polícia, a gente passa batido, agora, se for os alemão, tamo fudido com estas pistolas.

— Esconde aí, japonês!

— Não! Não posso fazer isso aqui no meu estabelecimento, não!

— Esconde essa porra, caralho!

— Faz o seguinte, coloca em qualquer lugar aí, amanhã vocês vêm buscar.

Silêncio no salão, só o malandro fala:

— Caralho, já são quase cinco horas da manhã e nada de saber o que acontece. Daqui a pouco é dia e a gente tem que ir embora!

— Alô, Rua 21! Já sabe de alguma coisa?

— Hã, hã, hã!

— Dá pra vim resgatar a gente?

— Sei, sei!

— Caralho, puta que pariu, é isso mesmo cara?

O malandro começa a andar de um lado para o outro. Todos que estavam na Adega ficaram esperando a resposta do que se conversava ao telefone.

— Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso Nome, seja feita a vossa vontade, assim na terra como céu, o pão nosso de cada dia nos daí hoje…

— Para de rezar esta porra aí porque tá atrapalhando a escuta do celular, caralho, reza baixinho, porra!

— Sei, sei, tá legal!

Silêncio.

— Atenção, gente, a favela ta fudida, os alemão comandado por Dodó invadiram o morro e parece que já morreram uns dez, tanto de lá quanto de cá, inclusive o feladaputa matou uma turista lá na Niemeyer.

Mais silêncio, sepulcral, sem tiros, sem barulho de carro e agora com a morte por perto.

As pessoas apreensivas e caladas. A moça continuava debaixo da mesa, o casal de namorados já estava pra lá de bêbado de tanto tomar vinho.

— O jeito é permanecermos aqui até o dia clarear, disse japonês. Gente, vai cochilar um pouquinho, seis horas chamo vocês!

Alguém ensaia uma gargalhada nervosa, que é logo interrompida pelo celular do malandro.

Trim, trim!

— Alô, alô, estamos ainda aqui na Ade…

— Pelo amor de Deus, cara, japonês grita, não pronuncia Adega não. Não fala aonde você está porque o Dodó é bem capaz de vir aqui atrás de vocês e matar todo mundo!

— Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós…

— Cala a boca, porra! É, é… Estamos aqui embaixo, próximo à Via Ópio. Vamos esperar o dia clarear e ver o que fazer! Tem polícia no morro? Não! Tá legal!

— Gente, o morro tá fudido. Não tem polícia. Dodó invadiu mesmo, matou um montão, inclusive parece que morreram dois no Clube Pancadões. A história é que ele parou em frente à entrada do Pancadões e mandou um montão de tiro lá pra dentro, foi pânico geral e tem muita gente ferida. Ainda bem que ele te respeita hein, japonês, e não atirou contra a sua porta.

— É, ainda bem, japonês respondeu. Esse cara é psicopata e sanguinário. Seria um Deus nos acuda.

— Ave Maria cheia de graça o Senhor é convosco…

— Para de rezar, já falei, ou te jogo lá fora pro Dodó acabar logo com a sua ladainha.

O telefone da Adega toca, novo susto geral, e todos olham para o telefone.

Japonês atende:

— Alô, hã, hã, hã! Aqui tá o maior sufoco, o dia tá amanhecendo, graças a Deus, e tudo vai correr bem, se Deus quiser. Já sabe o que tá acontecendo? Essa hora todo mundo já sabe pela internet. Falou da favela, o mundo para. Mais ou menos, depois te conto!

Japonês resolve tomar a iniciativa para abrir a porta, afinal, o dia começa a clarear e já são quase 5h30 de uma manhã fria e silenciosa. O comerciante abre a porta de aço devagarinho, cheio de precauções, e aos poucos a rua vai aparecendo deserta e silenciosa, sem carro, sem moto, sem pessoas.

— Espera, baixa a porta, disse o malandro. Viu alguém?

— Não. Respondeu japonês.

— Deixa eu pegar minha arma; parceiro, pega a sua. Vamos sair de pistola na mão, presta atenção, não tem polícia no morro. Se aparecer alguém armado, se for estranho, é alemão, manda chumbo pra cima sem perguntar, se for dos nossos, a gente conhece.

— Japonês pode abrir agora.

A porta é levantada calmamente.

— Tá vendo alguém?

— Ninguém. Tá o maior deserto!

— Preparado, irmão? O comparsa balança a cabeça que sim.

— No três sai um pra cada lado e a gente se encontra depois, tá ligado?

— Pode abrir, japonês. Pronto, 1, 2, vuado, vamo!

Como But Cassidy e Sandance Kid, saíram correndo com as armas nas mãos e desapareceram na curva do Efe.

Japonês manda o funcionário colocar Brilho da Noite no aparelho de CD, com a voz inconfundível de Celso Blues Boy, e varre a loja numa manhã cinzenta, em uma favela carioca silenciosa e de ruas vazias.

Quando o dia amanhece e o brilho, brilho da noite se vai
Quando o dia amanhece e o brilho, brilho da noite se vai
Vejo as pessoas tão caladas num canto amarguradas
Tudo o que foi dito, proposto e assumido
Tudo o que foi dito, proposto e assumido
Se perde no vazio, deste dia que se anuncia
Nada a temer ou se arrepender
Quando o dia amanhece e o brilho, brilho da noite se vai
Quando o dia amanhece e o brilho, brilho da noite se vai

 

 

 

 

O artista está presente com Felippe Moraes

Felippe começou a aula definindo o artista como vetor de transformação social, e através do conceito delleuziano de Rizoma, objeto sem eixo, sem raiz e sem ordenação. Colocando que a pergunta De onde vem e para onde vai? é irrelevante para essa abordagem da arte.

O professor afirmou que está interessado no índice, nos indícios, e foi até a origem etimológica da palavra que, além de significar tabela, lista, catálogo, relação, vem do latim índex, de indicador, indicar, apontar. O índice é um revelador, de uma pessoa para outra, de existências na matéria.

1. Indícios físicos:

Uma marca, uma sombra, um traço, um rastro, um sintoma, assim como a pintura e o pincel, a caligrafia, a dança são indícios físicos e revelam o tempo do fazer, a gestualidade. São o reflexo direto, o estado emocional, o próprio artista latente no trabalho.

A obra é um índice da persona; sempre existe uma pessoa por trás de um trabalho, uma ação. O autor está latente no seu gesto. Para exemplificar, mostrou um trabalho do artista brasileiro Almilcar de Castro (1920-2002).

A marca que o artista deixa no processo para chegar à imagem. O movimento vai acontecendo, na ação. É nesta ação que o artista é visto como vetor de transformação, abordagem política que considera o artista como um indivíduo que modifica o lugar onde está.

A marca individual, o valor do indivíduo é muito latente. O professor deu como exemplo o trabalho do escultor inglês Richard Long (1945-), conhecido como o geógrafo do silêncio ou geógrafo do invisível (1967).

Índice = dedo indicador = aquele que aponta.

Para exemplificar, Felippe mostrou o trabalho do artista mexicano Gabriel Orozco (1962), My hands are my heart, de 1991.

A minha marca, a minha individualidade é uma manifestação política.

Ele ressaltou que Giovani Morelli, Freud e Sherlock Holmes foram grandes leitores de índices. Eles encontravam a pessoa por meio dos indícios que deixavam, através da pintura, da fala ou de sinais do crime.

2. Indícios conceituais:

A arte conceitual é a decisão do artista, e só dele, naquele momento. A pessoa atrás do trabalho, a pessoa que tomou decisões, a pessoa que indicou.

Felippe exemplificou o trabalho conceitual com a obra One and Three Chairs, realizada em 1965, pelo artista norte-americano Joseph Kosuth (1945-).

No século XXI não precisamos mais de assinaturas, o artista é reconhecido não mais como um artífice, mas pela sua coerência conceitual, pelas suas decisões intelectuais.

A decisão é o desdobramento da existência do artista.

É o que diz a obra e as afirmações do precursor da arte conceitual, o artista francês Marcel Duchamp (1887-1968).

O dedo indicador aponta para o vazio e revela a questão do artista como um apontador. O artista tem o poder de revelar o invisível, a ausência. Nisso está

o seu poder.

“O artista mais que retratar ele revela a realidade”, disse o espanhol Salvador Dalí.

Neste momento, o professor mostrou o trabalho do artista norte-americano John Baldessari (1931-), de 1969.

Ser observador de arte contemporânea é um trabalho duro.

O dedo indicador é um bulbo no rizoma de Delleuze. Neste momento da aula Felippe Moraes mostrou exemplos históricos em que é possível perceber o poder do artista como artífice, o poder de mostrar, de indicar, a mútua afirmação criador/criatura.

Raphael Sanzio (1483-1520), Escola de Atenas, 1510.
Leonardo da Vinci (1452-1519), São João Batista, 1513.
Joseph Ducreux (1735-1802), Retrato, 1793.
Michelangelo (1475-1564), o Sopro de Deus, 1511.

 

3. Quando a obra em si é a presença, a presença é a obra em si.

Para encerrar, Felippe mostrou duas obras, que caracterizam o artista consciente de si e de seu trabalho como artista, a construção da persona do artista, da figura do artista, da marca do artista explícita em monograma, e parte integrante da obra. Afirmação do artista na cena e na narrativa da imagem. A presença do divino está na frontalidade.

Exemplo: Albrecht Durer (1471-1528), Autorretrato, 1484.

A frontalidade nos ícones ortodoxos representam a presença do divino, reflexos do mundo sobrenatural, pois existem regras para mostrar a presença do mundo sobrenatural.

Eu estou aqui, eu sou o meu trabalho, eu faço as minhas ações de igual para igual.

Exemplo: Marina Abramovic, O artista é o presente, registro das performances, 2010.

por Rute Casoy, assistente pedagógica da Universidade das Quebradas

 

 

Preto no Branco

Queridos e queridas,
Quebradeiros e quebradeiras,

Heloísa me escreveu perguntando se eu estava acompanhando a repercussão da África no Subúrbio. Não tinha a menor ideia do que ela me perguntava. Estive ocupada durante todo o fim de semana, e nem liguei o computador.

Bem, quando os e-mails começaram a pipocar, fui para a internet procurar notícias sobre as repercussões de rebeliões em subúrbios. Mas só encontrava notícias sobre “Revolta dos jovens dos subúrbios da França em 2005”. Não me vinha nem um verso do rap de Caetano Veloso e Gilberto Gil “O Haiti é aqui”. Não pensei nem por um momento que aquele tipo de repercussão estava na nossa gira.

Quando fui lendo o desenrolar dos textos, fiquei pasma. Uma frase destampou meu cérebro para escrever o que agora mando como mote para refletirmos sobre o que estamos quebrando, e o que ainda se posta na nossa frente como um monolito para ser demolido. Pensei: como os negros são pacientes. Passaram a vida inteira assistindo o protagonismo do branco em todos os lugares. Numa vezinha, pequenininha, num palco armado tão rápido como se desfez, onde quase todos que ali se apresentavam eram negros, deu essa celeuma toda?!

Esperem aí.

  • Em primeiro lugar: não houve concurso nem edital para ver quem entrava no elenco para fazer o trabalho que vimos no MAR. Eu mesma, que coordeno o Coletivo, quando dei por mim, quando dei por nós, o grupo já estava formado. Foi uma reunião espontânea. E houve até quem saiu. Entraria quem quisesse. A princípio não houve escolha. As pessoas se juntaram e foram se organizando e criando o roteiro. Quando vi o roteiro, pensei em Mãe Beata, e a convidei. A Hare é branca e estava lá. Eu sou neguinha? Também estava lá.

 

  • Para estudar: ninguém tem poder para engendrar qualquer tipo de racismo por si só. Este depende de condições históricas, relações de pode econômico e de submissão de um povo por outro. Se o branco ainda é privilegiado no nosso país, não há como discriminá-lo. Sabe a estrutura da comédia? Uma piada, ou uma comédia só será realizada quando o ouvinte ou o espectador sacar a carta X que está em jogo, e rir. Por isso a gente fica com cara de pateta quando os apresentadores de prêmios como o Oscar, por exemplo, fazem gracinhas. Não podemos rir, porque há muita coisa por trás de uma frase ou um dito espirituoso, que somente aqueles que compartilham a mesma cultura ou as mesmas informações anteriores podem deduzir e entender. A comédia só se completa no reconhecimento do outro que a assiste. Assim é com o racismo: qualquer coisa que se faça contra brancos não tem força suficiente para virar o jogo, fazer racismo ao contrário, não tem pegada, não tem história. Para se construir o racismo contra os negros e os judeus, por exemplo, é preciso contarmos os séculos de história que foram necessários para aquilo se consolidar. E se formos estudar isso, ainda vamos ter dificuldade de entender como aquilo se constituiu dentro de cada um.

 

  • Terceiro: acho que sabemos muito pouco distinguir preconceito e racismo; diferença entre pessoas e igualdade de direitos. Esse tema deveria entrar na nossa pauta para ontem. Vamos trabalhar interiormente também, porque há um aspecto psíquico, um evento subjetivo de cada um de nós que reage a toda essa problemática, e que tem a ver com nosso sinthoma, com a nossa formação própria, a de cada um. Mas este ponto subjetivo é para cada um refletir sozinho, não vamos levar isso para o lado pessoal, no sentido de que a discussão não deve seguir com vistas a brigarmos entre nós. Vamos tratar disso publicamente, trabalhando as formas de saber para vencermos a dificuldade teórica da coisa. Vale a pena fazer uma reflexão mais comprometida com vistas a saber como podemos provocar as verdadeiras mudanças.

Neste momento histórico é preciso que os NEGROS tenham visibilidade. Mas eu sonho com o dia em que eles serão invisíveis: quando estiverem cem, mil negros reunidos nas ruas, em casa, num palco qualquer e ninguém dê por isso.

Boa noite,

Numa Ciro de alma negra.

Nós brancos devemos agora passar o anel…

 

 

 

Música Erudita

 

O encontro do dia 4 de junho abordou o tema da música erudita, procurando evidenciar que tudo é construção histórica: o que hoje é clássico, talvez tenha sido popular um dia. Tivemos como fio condutor a forma sonata, sua gênese e sua consolidação como formato central na música sinfônica. Por fim, trabalhamos o mito da sala de concerto como espaço elitizado e inacessível. Monique Andries, nossa convidada, professora de Arte-Educação e vice-diretora da Faculdade de Educação da UFRJ, é bacharel em Música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e licenciada em Educação Artística pelo Conservatório Brasileiro de Música – Centro Universitário. Foi professora da Educação Básica por dez anos, antes de ingressar na docência superior.

Tivemos um encontro desmistificador sobre a música erudita, em que não apenas conversamos, mas também ouvimos Villa-Lobos e Beethoven, já que “falar de música sem escutar é muito chato”. A artista e professora inicia sua fala problematizando o fato desse estilo musical aparentemente estar tão distante de nós, abordando os aspectos sociais e políticos desde os primórdios da música até os dias de hoje. Quem levar? Que roupa usar? Como me comportar? Foram alguns dos questionamentos levantados.

A música, explica Monique, sempre esteve presente nos grupos humanos, dos mais antigos aos mais modernos, destacando a produção musical como uma das características que compõem o acervo cultural de determinado grupo. Ela traz a fala de um dos pensadores gregos antigos, Aristóteles, que afirma que o ensino da música deveria formar o amador esclarecido — poderíamos dizer hoje, bons ouvintes. Ela chamou a atenção para este episódio, destacando que naquela época já havia uma diferença de escuta da música. Se Aristóteles se preocupava em destacar o ensino da música para um bom ouvinte é porque existia um mau ouvinte, na sua concepção.

Depois, ela dá um salto para a Idade Média, período em que a separação de estilos musicais começa a ficar mais evidente: a música tocada dentro dos castelos, que tem autoria e é apreciada e composta apenas para uma elite, e a música de fora do castelo, que permanece na sua grande maioria sem autoria, no anonimato. Ela aponta que, desde aquela época, mesmo com a separação gritante, os dois estilos acabavam buscando inspiração em suas diferenças.

Monique explica que, hoje, a separação dos estilos musicais, do público que vai assisti-los e dos locais que cada um se apropria são construções históricas, ou seja, não é algo natural, e “se foi construído, pode ser descontruído”, nas palavras da professora. A separação entre erudito e popular é cercada de preconceitos dos dois lados. Porém, ela aponta para o fato da falta de acesso à música erudita. Como apreciar ou gostar de uma música que você não reconhece?

De certa forma, temos acesso à música popular, que toca em rádios, em casas de shows e bares. A música erudita é mais restrita, mas não precisa ser. Monique destaca que não é necessário um conhecimento musical “superdesenvolvido” para apreciá-la, apenas acesso e costume. A educação entra nesse contexto para trazer às pessoas o hábito da escuta musical, que permite ao sujeito acesso e possibilita a apreciação além do seu gosto já construído, novos estilos musicais.

No último momento da aula, a professora explicou quando é hora de aplaudir uma apresentação da forma sonata. Ela esclareceu que existem três tipos de composições que caracterizam a forma sonata, concebida na segunda metade do século XVIII, na Europa: a sonata, composição para um ou dois instrumentos; a sinfonia, música composta para uma orquestra; e o concerto, quando uma composição para orquestra, contém um solo para um instrumento específico. As peças são composta de três movimentos ou mais, em que se intercalam andamentos diferentes. Passando de um ritmo mais acelerado para um mais lento, o músico ou músicos, precisam de um tempo para respirar e se concentrar para o próximo movimento, e nesta hora não se deve bater palma. Apenas no final de todos os movimentos é que devemos ovacionar.

Para saber em que momentos aplaudir, podemos procurar os sinais descritos no programa do concerto ou evento.

Uma tarde bastante agradável e de muito aprendizado e desmistificação. Vimos que não há mistérios, apenas desconhecimentos com relação à música erudita. Percebemos que os espaços e as músicas devem ser apropriados por nós, que não devemos nos prender aos estilos que já estamos acostumados, e sempre devemos buscar novas formas de apreciação. E nas palavras de Monique, ecoa Adorno: “Gostamos do que a gente reconhece.” Por isso a importância de sempre conhecer algo novo.

por Breno Asbou e Iris Medeiros

 

 

Papo nas Quebradas com Binho Cultura

 

Quem dá o papo nas Quebradas é o escritor, poeta e empreendedor (como ele mesmo se define), George Cléber Alves, conhecido em todas as Quebradas da Cidade como Binho Cultura. Prestes a completar 33 anos e lançar o livro A história que eu conto, pela Aeroplano Editora, este ilustre morador da Vila Aliança, Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro, conta para o quebradeiro Pablo Ramoz, um pouco das suas histórias e memórias da comunidade em que vive, e a sua relação com as artes.

PR – Você declarou anteriormente ter sofrido “constrangimento na escola”, na infância, e que este ato disparou o seu contato com as artes. Como foi isso?

Binho O constrangimento foi na adolescência, aos 16 anos. Fui uma criança que aprendeu a ler cedo e tinha muita curiosidade pelas palavras. Sem acesso a livros — naquele tempo era um artigo de luxo —, me pegava apreciando uma estante cheia que ficava na casa de um colega de infância — os livros eram de seus irmãos mais velhos.

Na adolescência, o contato com as palavras foi através de desabafos escritos, manifestos de revolta através de pichações, mas o que me marcou foram as letras de rap, escrevia funk melody; com isso me descobri na poesia. A escola me marcou negativamente num episódio em que a professora de língua portuguesa me expôs diante da turma quando confidenciei a razão de não ter o livro paradidático e pedi uma segunda chance, não dada por ela, que alegou direitos iguais para todos os alunos, mesmo com o motivo apresentado. A evasão da escola foi a partir deste dia, deixei de realizar meu sonho de ser paraquedista por não ter escolaridade. Mas, um ano e meio após, fundei a primeira Biblioteca Comunitária do Complexo de Vila Aliança e Senador Camará, a Quilombo dos Poetas, e participei de um concurso de poesias e crônicas, ficando com duas crônicas entre as sete primeiras colocadas dos quase duzentos participantes adultos, formados. Recebi incentivos e palavras do Sr. Murilo, fundador do Grêmio Literário José Mauro Vasconcelos, em Bangu. Foi um ponta-pé importante na minha entrada no universo da arte, mesmo não tendo nenhuma noção disso.

PR – O dramaturgo argentino Aristídes Vargas, assume que escreve sob o efeito do trauma. Você se identifica com essa literatura do trauma?

Binho – Acredito que o trauma provoca dois impactos psicológicos: aquele que te afunda em depressão ou te torna agressivo, e aquele que te faz dar a volta por cima e não dar razão ao fator que te traumatizou. Portanto, mesmo sem tê-lo lido, me identifico com Vargas à medida que tudo o que escrevo é reflexo do que me impacta positiva e negativamente.

PR – Você acredita que a arte salva? Ela te salvou?

Binho – Não diria que tenha me salvado, porque não estava perdido, nem tendenciado a seguir um caminho negativo. Posso garantir que a arte fez com que me encontrasse para uma segunda chance de sonhar, e desta vez poder me realizar sem depender do sim ou não de outrem, como aconteceu com o sonho de ser paraquedista. A arte me ampliou o universo e me fez expandir os conhecimentos de forma holística, aproveitando tudo o que passei na vida e transformando em otimismo e positividade. Sou um homem rico culturalmente e ilimitado intelectualmente graças a arte de viver bem!

PR – Qual é a sua relação com As histórias que outros contam?

Binho – Sou uma pessoa que se identifica com histórias de pessoas, que se tornam referências e aprendizado. Assim é a História, sendo que contada apenas por uma determinada visão da sociedade. Toda literatura é uma história contada por pessoas, seja qual for o gênero. A grande diferença é que hoje qualquer pessoa pode, além de ler as histórias dos outros, também escrever sua própria trajetória, assim como eu em meu livro.

PR – O que você espera provocar nos leitores, especialmente os de Vila Aliança?

Binho – Minha expectativa é tão ousada quanto ambiciosa, mas extremamente factível, no que diz respeito a formar novos escritores e estimular seu ciclo do convívio social: o leia e passe a ler também. Minha meta é, em parceria com outras pessoas que comunguem desse ponto de vista, fazer isso em toda a Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. A partir dos resultados comprovadamente atingidos poderemos expandir para outras regiões do estado. A Flizo – Festa Literária da Zona Oeste já está sendo organizada para acontecer em 2013. Será o marco histórico dessa missão. Tenho motivos para acreditar que isso é possível, pois faço este tipo de ação desde 1998 com a Quilombo dos Poetas, e muitos se tornaram leitores porque tinham o livro ao seu alcance; com o Sarau Chá com Letras que criei também, muitos se tornaram escritores e poetas, porque estavam próximos a pessoas que escreviam; agora vamos fazer isso de maneira mais ampla.

PR – Qual é a sensação de lançar um livro?

Binho – Toda história deveria ser contada, porque viver é uma experiência ímpar, sobreviver é um ato heroico, por essa razão acredito que nossas experiências devam ser compartilhadas, pois estimulam, inspiram e podem se tornar referenciais para quem se identifica com nossas trajetórias. Me sinto lisonjeado, sobretudo, porque meu primeiro livro está sendo lançado a partir do convite da pessoa que mais admiro na literatura, que é a minha maior referência literária dentro e fora do livro, a minha queridíssima Heloísa Buarque de Hollanda. Quem diria que aquela pessoa que li e admirei se tornaria minha amiga e me convidaria para sua coleção Tramas Urbanas, da qual tenho quase todos os exemplares, e hoje meu livro, minha história será compartilhada. Só tenho a agradecer a Deus por essa dádiva e dizer que, quem ler o meu livro não se arrependerá, porque não será apenas a minha história, é a história de muitas pessoas que mudaram a história de um lugar desacreditado; ouso dizer que esta é a história dos desoprimidos.

Ritmofagia da Linguagem

Confesso que quando recebi o convite tremi, entrei em pânico como todo desafio que recebemos e temos que enfrentar. Mas o guerreiro não foge a luta e também ao bom combate, apesar de que aqui não se trata de um combate, representa apenas um colóquio, uma partilha do sensível, uma comunhão de ideias. Entretanto, como não sou nenhum doutor, homem de carreira acadêmica, sento-me junto aos meus parceiros palestrantes como outsider, vou apenas discorrer pelo campo da minha experiência artística e pesquisa sonora e de meu contato com o universo da palavra de forma intuitiva e muitas vezes caótica. Impulsionado por este caos criador, criei minhas narrativas e meu ritual de passagem, para o estagio de uma pré-cidadania, podemos dizer assim.

Porque um artista talvez nunca seja um cidadão em seu sentido pleno, de fato o artista sempre anda por fora da dimensão social, mesmo sendo sua arte um instrumento de provocação e reflexão para uma mudança política, sendo sua arte um dispositivo micropolitico como afirma Michel Foucault, sabemos que vivemos numa sociedade, em que predomina vários resquícios de conservadorismos e preconceitos de todo tipo.

Portanto, posso afirmar que esta relação com o fenômeno da linguagem me garantiu uma civilidade e, sobretudo, uma condição de humano — com este fazer poético pude garantir minha humanidade. Mesmo vivendo numa sociedade que tenta a todo custo afirmar a minha desumanidade.

Estar em cena com a palavra sempre foi um desafio, no sentido de construir-me em primeiro plano como sujeito e depois como artista. Outra dimensão que me norteia, me organiza sem dúvida é o fenômeno rítmico.

Costumo dizer que sem estes dois fenômenos criativos — o mundo da palavra e a textualidade rítmica — “eu seria apenas um cadáver”, um poste sem luz, um trem fora dos trilhos, um corpo sem alma. no entanto, um espírito sem destino. Alma aqui entra como sinônimo de discernimento. O ritmo nos tempos da infância era uma brincadeira que me divertia, me levava a viagens celestiais e fantasias oníricas – tive sonhos intermináveis vivendo a ludicidade rítmica. Depois, esta experiência veio se tornar uma grande aliada no meu desenvolvimento humano em interação com a arte da palavra. Mudando a afirmativa bíblica que no início era o verbo, poderemos dizer que no principio era o ritmo. Que a tudo deu movimento e vida.

Seguindo a perspectiva de Octávio Paz, pegando como exemplo o livro: Signos em rotação, em que ele vai dizer de maneira categórica: “o ritmo não só é o elemento mais antigo e permanente da linguagem como ainda não é difícil que seja anterior à própria linguagem. Em certo sentido, pode-se dizer que a linguagem nasce do ritmo. Assim, todas as expressões verbais são ritmos sem exclusão das formas mais abstratas ou didáticas da prosa”, afirma, Paz. Acrescento, deposito mais uma fagulha: creio que não existe expressões artísticas que não sejam contaminadas pelo o espírito do ritmo, ou vida que não receba sua influência e contaminação. Sim, porque somos todos contaminados pelo ritmo, ritmos são forças dialéticas, que ocupam tanto o mundo real quanto o simbólico. Em Mario de Andrade, isso fica bem claro no livro Uma pequena história da música brasileira, ou senão no livro Namoro com a medicina, no qual Mario fala das consequências do ritmo. De sua importância para a cultura e as linguagens artísticas. Costumo dizer que vivemos num processo de ritmofagia, somos todos engolido na atual sociedade por ritmos de toda a espécie.

Por outro lado, na atual sociedade contemporânea, em um tempo do Amor líquido, trazendo Zygmunt Bauman para este debate, na qual afirma que as relações humanas estão cada vez mais flexíveis, gerando níveis de insegurança que aumentam a cada dia. Consequentemente, para essa crise da modernidade líquida, o ritmo é de suma importância para que possamos reinventar nossos modos de viver e nos relacionar, dar e receber — em busca da justa contribuição para exprimir gratidão. Ousemos nos colocar num campo de abundância — especialmente em tempos de escassez.

Como afirma Drummond no poema: Os Ombros Suportam o Mundo,

 Tempo de absoluta depuração.
 Tempo em que não se diz mais: meu amor.
 Porque o amor resultou inútil. Estamos sendo tragado por um tempo sem amor.

Poderemos, utilizar o Tambor como um arquétipo, como metáfora, como um signo catalizador de energias que transforma as emoções e re-significa sentidos. Desta forma, o ritmo faz a incrível conexão ancestral entre o material e o imaterial, a realidade e a imaginação, entre o espiritual e o carnal, entre o novo e o velho. Separando-nos da ancestralidade por meio do tempo.

Sendo o ritmo uma maneira de contar o tempo em seu sentido musical. Mas o ritmo é mais do que contar compassos e medir metro, metro não é sinônimo de ritmo, ambos são coisas distintas. Metro é medida, ritmo é fruição.

Acredito que com a criatividade dos ritmos, como linguagem poética e fenômeno agregador, possamos utilizá-los como um ritual de passagem para uma cordialidade social e uma convocação para uma intervenção que desconcerte nosso isolamento contemporâneo — dentro desse velho sistema em colapso.

Para finalizar, uso aqui, já que estamos na semana de Corpus Christi, uma imagem teológica, trazida por José Miguel Wisnisk, que ilustra o livro O som e o sentido. Wisnik cita Santo Agostinho quando compara Jesus a um tambor, pele esticada na cruz, corpo sacrificado como instrumento para que a música ou ruído do mundo se torne a cantilena da graça, holocaustos necessários para que soem as aleluias. Esse tambor crístico na tentativa de eliminar nossas falhas e glorificar nossa Glória. Senão, como afirma o antropólogo e poeta Antônio Riserio, em “Oriki Orixá”, os tambores como um axé na cosmologia dos Orixás tecendo o profano e o sagrado. Textos criativos, tambores falantes que tentam imitar a voz humana, já que a fala é o melhor espetáculo encenado pelo ser humano. Na certeza de que, quando os tambores tocam, tocam por causa da fé, do amor e da liberdade. Nessa ritualidade, as máscaras caem, dando origem a uma nova narrativa. Obrigado.

 

Babilak Bah é artista do ruído, poeta e arte-educador
Este texto foi elaborado para o Fórum das Letras que acontece na cidade de Ouro Preto – Literatura em Cena: Rituais, Máscaras, Ritmos de Contato e Narrativas da Origem

por Babilak Bah

Ilustração feita a partir da “partitura” da Music for Airports, de Brian Eno

 

 

Poesia Performativa Pernambucana Contemporânea

No último dia 28, a poesia performativa pernambucana contemporânea tomou conta da Universidade das Quebradas. O bate-papo aconteceu com Valmir Jordão, uma das figuras mais importantes desse cenário. O poeta apresentou-se declamando um poema em homenagem aos 300 anos de morte de Zumbi. Logo depois emendou os poemas “Justiça social” e “Matemática urbana”.

A contextualização do cenário da poesia contou com a participação do pesquisador visitante do PACC (e poeta nas horas vagas) André Telles do Rosário. Estudioso da obra de Miró e França, conhecido como um dos primeiros “poetas marginais”, André explicou como, durante os anos 1980, alguns poetas radicados no Recife começaram a fazer poesia nas ruas do Recife, capital pernambucana. Conhecidos como “poetas marginais”, essa geração de poetas começou a recitar sua poesia pelas ruas e a vender seus livretos em bares, mercados e outros lugares da cidade.

Valmir define a poesia marginal como cínica, visceral. Ele trouxe a ideia de que a poesia nos faz perceber o que de nós mesmos pode ser percebido no outro. Ele separa a poesia em três categorias: cordel, acadêmica e urbana/marginal. Com a ideia de que é mais fácil determinar o que não é poesia do que o que de fato é, Valmir e André transformaram a aula em um grande recital, abrindo espaço para perguntas e para os quebradeiros declamarem suas próprias poesias.

interpoetica.com: site que reúne toda produção dos poetas marginais pernambucanos

http://poetafranca.com/: site que reúne a obra do poeta França, um dos pioneiros na poesia marginal

por Bárbara Reis, bolsista Pibex PACC/UFRJ

 

 

Outra – poesia reunida no sarau de Manguinhos

O Sarau Poético de Manguinhos teve sua primeira edição em dezembro de 2001. Foi organizado por professores e alunos do Pré-Vestibular Comunitário de Manguinhos (PVCM), um movimento de educação popular, laico e apartidário, que atuou no campo da educação com a capacitação para o vestibular de estudantes economicamente desfavorecidos de Manguinhos e de outros bairros do entorno. Desde então, Manguinhos passou a reunir, nos dias de Sarau, poetas de diversos bairros e favelas do Rio. Zona sul, subúrbio e Baixada se concentravam naqueles encontros poéticos.

Em 2010, o Sarau deixou a sede do PVCM e mudou-se para o hall do cineteatro da Biblioteca Parque de Manguinhos. Ali passou a manter frequência mensal e o mesmo germe aglutinador da diferença. Outra – Poesia reunida no Sarau de Manguinhos procura dar conta da diversidade e da diferença de espaços socioculturais por meio de dicções poéticas que poucas reuniões literárias são capazes de aglutinar. Entre o excesso do sentimento e a contenção do verso, entre a força do corpo e da oralidade na performance e a inocência do hermetismo na escrita, entre a expressão das experiências vividas e a leitura crítica do mundo, os poetas e poemas ali reunidos se intercomunicam através de vasos insuspeitos e compõem um panorama significativo da poesia brasileira contemporânea. O resultado do conjunto é uma poesia que expõe mesmo o próprio estatuto do poético, percebido e constituído em esferas distintas da sociedade, que tem em comum o fato de estarem mais livres da perspectiva normativa e acadêmica sobre o que é poesia.

Nova geografia da poesia carioca

Organizada pelos editores Alexandre Faria e Oswaldo Martins, a coletânea inclui quatro poetas de Manguinhos, Claudio Barreto, José Pereira Dias, Maura Santiago, Maria do Socorro, cinco de outras localidades cariocas, Adriana Kairos (Maré), Aline Leite (Acari), Elesbão Ribeiro (Piedade), Mozileide Neri (Pavuna), Monique Nix (Vila da Penha), e, ainda, André Capilé, poeta multimunicipal (Barra Mansa, Juiz de Fora e Rio), convidado do primeiro sarau feito na Biblioteca Parque e, desde então, parceiro e colaborador do evento.

Além do lançamento, que ocorrerá na Biblioteca Parque de Manguinhos, a editora TextoTerritório organizará também uma mesa-redonda sobre a poesia carioca contemporânea, na livraria Moviola, em Laranjeiras, da qual participarão Alexandre Faria, André Capilé e o professor da UFRJ João Camillo Pena.  

Serviço:

  • Lançamento: 4/6/2013, terça-feira, 18h30, Biblioteca Parque de Manguinhos, Av. D. Hélder Câmara, 1.184 (atrás do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila).
  • Mesa-redonda “Poesia Carioca Contemporânea”, 25/6/2013, terça-feira, 18h30, Livraria Moviola, Rua das Laranjeiras, 280, lojas B e C, Laranjeiras.

por Júlia de Marins, bolsista pibex/ECO, 27 de maio de 2013

 

 

Subaliro

Imaginação e realidade saíram das páginas dos livros para o debate da última quinta-feira. A subida literária à Rocinha reuniu escritores e quebradeiros para falar sobre a importância da leitura na relação e formação das pessoas. Paulo Scott, Ronaldo Ferrito, Victor Paes, Clovis Bulcão e Aderaldo Luciano usaram a cidade do Rio de Janeiro como pano de fundo para discutir a situação atual do Brasil e falaram de suas próprias relações com os livros.

O gaúcho Paulo Scott abriu a roda falando sobre o que há de parecido entre a sociedade gaúcha e a carioca. A malemolência dos moradores da Cidade Maravilhosa torna o povo simpático e divertido, mas muitas vezes disfarça problemas sérios. O racismo, por exemplo, faz parte da realidade da capital fluminense, contudo, é maquiado para parecer inexistente. Apesar de não ser uma vantagem, Scott contou que seus conterrâneos demonstram o preconceito claramente, e que isso, por mais vergonhoso que seja, ao menos mostra quais instituições, personalidades e paradigmas precisam ser mudados.

Ex-professor de Direito e atualmente escritor premiado, Paulo Scott viu seu pai, negro, ser recebido com honra na associação mais conservadora do Rio Grande do Sul para assistir seu filho ganhar o Prêmio Jornal O Sul / Câmara Rio-Grandense do Livro / Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

Já Ronaldo Ferrito, ensaísta, poeta e editor da Confraria dos Ventos, compartilhou a experiência de ter um livro publicado em outro país. Este ano, o convidado lançou uma versão de sua obra A via excêntrica (2010) na Galícia, região de influência lusófila na Espanha. Segundo ele, a Europa incentiva e valoriza o mercado dos livros, atitude que ainda não se fortaleceu no Brasil e que dificulta o trabalho dos escritores.

Victor Paes dividiu com os quebradeiros um pouco de sua infância e de suas impressões sobre a vida de internauta. Se não fossem as aulas e o interesse irresistível em passar as tardes lendo, Victor provavelmente não seria hoje autor de contos e poesias. Ator, escritor e editor, ele acredita que as redes sociais, tão populares na internet, sejam responsáveis por uma falsidade combinada, em que todos querem ser “bonitos”.

Numa política de “me curte que eu te curto”, amigos de Facebook ficam horas na frente do computador buscando um minuto de atenção entre milhares de fotos e assuntos que se multiplicam na rede. Crianças e adolescentes agora matam aula para viverem a realidade virtual, enquanto a leitura fica cada vez mais esquecida.

Também dedicado aos livros, Clovis Bulcão contou um pouco de sua experiência não só com a literatura, mas também com a educação.Com a experiência de já ter lecionado em instituições privadas e públicas, o convidado falou sobre as dificuldades que professores enfrentam nas salas de aula.

Num país que possui uma educação tão defasada e desigual, os que podem pagar colégios particulares exigem aprovação a qualquer custo, enquanto os alunos com problemas de aprendizado das escolas públicas são empurrados pela aprovação automática. O descaso com que o ensino brasileiro é tratado e visto prejudica o desenvolvimento do país e, claramente, a formação crítica de cidadãos.

Por último, Aderaldo Luciano, autor de inúmeras obras, entre elas Apontamentos para uma história crítica do cordel, comentou o preconceito da Academia em relação à literatura de cordel. Muitas vezes tratado como “não literatura”, o cordel é parte da história do Nordeste brasileiro e exige conhecimento e talento de seus autores. Entre rimas bem-feitas, assuntos e problemas cotidianos da vida do povo brasileiro são representados e criticados.

Escritores e quebradeiros trocaram conhecimento e experiência de vida. Histórias de quem esteve sempre ligado aos livros e de quem luta para ter acesso a eles se cruzaram para mostrar a realidade ainda desigual, mas evolutiva do nosso país. A passos lentos, caminhamos para um ensino justo e eficiente.

 

Por Júlia de Marins – Bolsista PIBEX/ECO – 27 de maio de 2013

Foto Jussara Santos

 

Universidade das Quebradas em Iporá – GO

 

Uma equipe, de 18 pessoas, que conta com alunos, professores e funcionários da UFG e da Secretaria de Estado da Cultura de Goiás, seguiu, em um ônibus, neste fim de semana, para o município de Iporá.

Aprender mais sobre fotografia, vídeo por celular, videomapping, internet, portfólio artístico, pátina provençal e discussão sobre políticas culturais são assuntos da UNIVERSIDADE DAS QUEBRADAS que chega à cidade neste final de semana.

Artistas de Iporá conseguiram trazer esta ação, que é prática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com realização pela Funarte, em parceria com Média Lab, UFG, UFPA, UFPB, Udesc, Secultu-GO, e, no plano local, o Gira, o movimento cultural que prepara evento para setembro, em Iporá.

São grátis os serviços prestados pela UFRJ e parceiros, consistindo numa valiosa oportunidade para as pessoas se aperfeiçoarem no mundo das artes. As oficinas devem acontecer nos espaços da UEG, IF Goiano, Câmara Municipal, Barraca da Economia Solidária e rua da festa de maio. A presença da arte será evidenciada dentro do evento da padroeira, com a implementação de ação chamada RUA (Realidade Urbana Aumentada). Todas estas atividades antecedem a realização do Gira, em setembro, um grande evento cultural que tem Walquiria Wal e Daya Gomes na produção executiva, Eros Trovador na produção artística, Cida Barros na produção de decoração e ambientação, Adriane de Jesus na produção de comunicação, William Gonçalves na área de infraestrutura e Maria Gonçalves na área financeira.

Poesia performativa contemporânea de Pernambuco

 

Há uma geração de poetas, radicados em Recife, que desde os anos 1980 vêm fazendo poesia das ruas e nas ruas da capital pernambucana. Conhecidos como poetas marginais, estes criadores passaram a recitar (e vender seus livretos) nas ruas, em bares, mercados e outros lugares da cidade.

Valmir Jordão é uma das figuras mais importantes dentro deste cenário, junto a autores como Miró da Muribeca, França de Olinda, Érickson Luna, e tantos outros. Performático e urbano, poeta tanto de textos curtos, poemas, piadas e haikais, como de textos de maior fôlego, Valmir tem viajado pelo Brasil com sua poesia, se apresentando do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte.

A participação dele na UQ terá uma introdução a esse universo da poesia marginal recifense, e, em seguida, a apresentação do próprio poeta, com uma conversa criativa sobre poesia corporalmente compartilhada, que evoluirá para uma roda de poesia falada.

 

No encontro com os quebradeiros, Valmir Jordão terá o apoio de André Telles do Rosário, pesquisador visitante do Pós-Doutorado do PACC. André estudou a obra de Miró e França, outros poetas deste grupo, e também viajou recitando com tais poetas e com Valmir, entre 2007 e 2009.

 

 

 

 

Colóquio “TecnoMídia, TecnoCorpo, TecnoBrega”

 

Belém, capital do Pará: terra do tecnobrega, que treme com as aparelhagens; que pirateia discos e reinventa o mercado da música; que hoje tem um dos mais propícios terrenos para análise da interação entre tecnologia e cultura. Para discutir tudo isso, será realizado o colóquio TecnoMídia, TecnoCorpo, TecnoBrega, nos dias 29 e 30 de maio, na Casa Fora do Eixo Amazônia.

O evento em Belém é uma realização do projeto Territórios Híbridos, da Faculdade de Artes Visuais, do Instituto de Ciências da Arte, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e tem coordenação e mediação de Val Sampaio, artista e pesquisadora de tecnomídia, professora da Faculdade de Artes Visuais e do Mestrado em Artes da UFPA. A ideia do colóquio é unir experiências que vão do acadêmico ao popular.

A programação abrange as pesquisas desenvolvidas nas universidades, com a participação de Antônio Maurício da Costa, professor de História da UFPA, com Doutorado em Antropologia Social (USP), e de Mauro Maia, professor da Universidade da Amazônia (Unama), mestre em Ciências Sociais (UFPA). Por outro lado, estarão representantes dos atuais movimentos de cultura tecno no Pará, como a cineasta Priscila Brasil, produtora da cantora Gaby Amarantos, e o DJ Waldo Squash, produtor e cantor da banda Gang do Eletro. O artista multimídia Nacho Durán também participa da programação com o set TeleKommando – TecnoKommando A/V.

 

Programação

O evento será transmitido on-line (http://www.postv.org/), com coordenação e mediação de Val Sampaio, artista e pesquisadora de tecnomídia, professora da Faculdade de Artes Visuais e do Mestrado em Artes do PPGARTES/ICA/UFPA.

29/5/2013

  • 19h – Mesa- redonda: “Circuito + Tecnologia + Identidades” – Antônio Maurício da Costa, professor de História da UFPA, com Doutorado em Antropologia Social (USP); Priscila Brasil, produtora da cantora Gaby Amarantos – projeto com crianças no bairro do Jurunas.
  • 21h – TeknoKommando A/V mashup set, com DVJ TeleKommando, com VJ Nacho Durán.

30/5/2013

  • 19h – Mesa-redonda: “Música + Ruído + Tecnomídia” – Mauro Maia, Professor da Universidade da Amazônia (Unama), Mestre em Ciências Sociais (UFPA); DJ Waldo Squash, produtor, DJ e cantor da banda Gang do Eletro.
  • 21h – Set DJ Waldo Squash.

 

Serviço

O Colóquio TecnoMídia, TecnoCorpo, TecnoBrega ocorre nos próximos dias 29 e 30 de maio, a partir das 19h, na Casa Fora do Eixo Amazônia (Rua Aristides Lobo, 292, bairro da Campina). Entrada franca.

 

Edição Belém

Realização

Territórios Híbridos – Faculdade de Artes Visuais – Instituto de Ciências da Arte – Universidade Federal do Pará – Universidade das Quebradas em Rede – Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais 9a edição – Fundação Nacional de Artes – Ministério da Cultura – Governo Federal do Brasil

 

Promoção

PACC/UFRJ – Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ – Pró-reitoria de Extensão PR-5 – Media Lab UFG – UFG

 

Parceria

Universidade Fora do Eixo Integrado: UniCult e Cultura de RED – Fundação Roberto Marinho – Faperj – CNPq – Udesc – Universidade do Estado de Santa Catarina – Universidade Federal da Paraíba

 

 

 

 

 

Fernando Salis fala sobre inovação no cinema brasileiro

 

A sétima arte foi o assunto que ocupou a tela e as mentes da Universidade das Quebradas no encontro da última terça-feira. O convidado Fernando Salis, atualmente professor da Escola de Comunicação da UFRJ (Eco) e criador de videoartes em instalações e grandes projeções, falou sobre Cinema e Performance, com foco no cinema brasileiro contemporâneo.

Segundo Fernando, as produções cinematográficas nacionais têm mostrado, além de qualidade, muita inovação. Comandados por diretores jovens, os filmes apostam em temas cotidianos, personagens originais e montagens criativas.

Para exemplificar, o professor escolheu os dois grupos atuais de produção para cinema: o Alumbramento, de Fortaleza, e o Teia, de Belo Horizonte. Ambos formados por jovens cineastas, atores, produtores e diretores, criam filmes mesclando documentário com ficção. A turma do Ceará lançou há pouco tempo a produção Monstros, que conta em poucas palavras a história sobre uma festa que marcará o reencontro de quatro amigos.

Já os mineiros produziram Céu sobre os ombros, que ficou em cartaz em alguns cinemas alternativos do Rio. O filme é um documentário que reconta a vida de três personagens moradores de BH, cada um com uma história peculiar e uma vida estritamente ligada às palavras.

O primeiro é um escritor imigrante de Cabo Verde, que já passou por momentos difíceis no Brasil ao lado de seu filho excepcional. O outro é um adepto do Hare Krishna, empregado de uma das maiores empresas de telemarketing do país e diretor de uma torcida organizada do Clube Atlético Mineiro. Por último, uma transexual, que exerce, assumidamente, as profissões de professora universitária e prostituta completa a produção, mostrando os problemas que sua mudança de gênero traz.

A montagem, a forma como é feita a filmagem e a atuação das personagens envolvem o espectador. Segundo Fernando Salis, após assistir Céu sobre os ombros, fica a pergunta: Até que ponto o que vemos é documental ou encenado?

As inovações tecnológicas para edição, reprodução e até projeção permitem que os profissionais jovens reciclem o mercado cinematográfico, mudando a cara do cinema nacional. As salas de cinema já não são mais suficientes, personagens inventados não cabem mais, enredos dedutíveis também deixaram de impressionar.

A criação e a edição resultam em novas formas de fazer. As ruas, os muros, as paredes e os objetos são a nova maneira de mostrar.

por Júlia de Marins, bolsista Pibex/ECO, 22 de maio de 2013

 

 

 

 

Música, som, ritmo, dança e expressão

 

 

Começando com uma história divertida da Leda Lessa sobre como a música encontrou o caminho para a sua vida, o verdadeiro tema do “Território: Música, linguagem e expressão” talvez tenha sido a diversidade. Tivemos um panorama desde os cantadores de histórias, com os contos musicados da Sylvia Orthof, ao projeto de capoeira nas igrejas, comandado pelo Joaquim, passando pela dança afro.

Quando criança, a quebradeira Leda participava de concursos musicais em São Gonçalo, promovidos pelo palhaço Carequinha, focada sempre no grande prêmio: uma lata de goiabada. Mais tarde, transformou a casa que foi o refúgio de um cientista judeu durante a Segunda Grande Guerra Mundial em um espaço para as crianças da região. Foi meio sem querer que os ensaios dos “cantadores de histórias” se tornaram atração.

A história sobre o projeto de capoeira do Joaquim percorre caminhos sagrados. Músico nato, leva, há anos, a cultura afro para escolas e igrejas evangélicas, por meio da capoeira. Um dos grandes momentos do Jubal no Território foi quando ele tocou um hino evangélico no berimbau, sem o acompanhamento de nenhum outro instrumento.

Ainda pensando sobre a cultura negra, Raquele Bernardi falou sobre arte e cidadania através da dança e dos projetos que já desenvolveu envolvendo dança afro. E ainda trabalhando essa relação da dança e do corpo, Fabiana Eramo, que pratica dança afro há seis anos, falou sobre esta prática e a relação com a academia. Fabiana relatou e apresentou coreografias em que relaciona os movimentos com os arquétipos dos Orixás. A pergunta O que é a dança afro? norteou seu mestrado em antropologia. Fabiana afirmou haver uma distância entre o que é percebido pela academia e o corpo.

Logo depois, Sandro Cortes contou sua experiência na Secretaria de Cultura de Paracambi. Falou da Feira de Cultura que organiza há mais de dez anos na cidade, onde artistas locais e convidados famosos se apresentam num espaço central da cidade. Sandro, que é roqueiro, mostrou uma de suas composições pra gente.

Zé Carlos Gomez falou sobre música, percussão e instrumentos, mostrando o vídeo feito pela quebradeira Sandra Lima. A dica que Zé Carlos dá para qualquer um que tenha vontade de começar a tocar um instrumento é pensar nos sons que gosta e costuma ouvir.

O sarau começou com o Coral das Quebradas cantando “Peixinhos no mar”, de Milton Nascimento. Logo depois, Breno cantou a música “At lo kmo kulam”, da banda de rock israelense Mashina.

O encerramento do Território ocorreu em grande estilo, com uma roda de capoeira e dança afro.

Para ver uns dos bons momentos da tarde, assista aos vídeos feitos pela quebradeira Sandra Lima:

Para ver o vídeo completo do Triabás, trabalho de Fabiana Eramo, que consiste em um processo de desconstrução das danças de umbigada unidas à dança dos Orixás, assista ao vídeo:

 

por Bárbara Reis, bolsista Pibex PACC/UFRJ