Questões a abordar:
- Oralidade e escrita (letramento)
- Literatura como Póetica
- Práticas da mousiké grega
- O poeta itinerante
- Grandes temas épicos universais: a existência trágica do herói; a existência como uma grande viagem de retorno.
- Como resgatar essa herança poética da oralidade no meio acadêmico?
As primeiras obras ditas literárias do Ocidente – a Ilíada e a Odisseia – revelam o forte caráter de oralidade da literatura grega desde suas origens, inteiramente conjugado às praticas musicais, ou melhor, as práticas da mousiké . Rememorar, comemorar, dançar e cantar, ao ritmo do instrumento e do verso, estão na gênese de toda a literatura. Embora o poeta itinerante grego tenha desaparecido ao longo da história da Grécia e tenha sobrevivido apenas no pobre registro da cultura escrita da tradição, podemos indagar, a partir dele, por essa presença viva – a do poeta – e seu lugar em nossa cultura nos dias de hoje. O vigor e a força dos temas épicos estão presentes em nosso cotidiano a interpelar-nos todo tempo: as escolhas trágicas, a quebra de valores, a morte como destinar do homem, a odisseia da vida: jornada constante para fugir do esquecimento/morte; o canto da sereias, sedutor e fatal; os monstro que povoam a existência; o medo de ter sido esquecido pelos que ama; enfim, temas sempre rememoráveis e memoráveis. Nossa pré-aula procurará problematizar essas questões e transportá-las do âmbito acadêmico para o âmbito das questões contemporâneas.
Referências bibliográficas:
KAFAVIS, Konstantino P. Poemas. Tradução Haroldo de Campos. São Paulo: ed. Cosac Naify, 2012.
MANGUEL, Alberto. Ilíada e Odisseia de Homero. São Paulo: ed. Jorge Zahar, 2010.
MORAES, Alexandre Santos de. O Ofício de Homero. Rio de Janeiro: ed. Mauad, 2012.
VERNANT, Pierre. O Mundo de Homero. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
Documentários:
- “The Truth of Troy”, BBC – Horizon, 2004, no YouTube.
- “O Poder do mito”, entrevista com Joseph Campbell no YouTube (escritor do livro “ O herói de Mil Faces.
Troianos
Konstantino Kafavis
São nossos esforços os dos infortunados;
são nossos esforços como os dos troianos.
Conseguimos um pouco; um pouco
levantamos a cabeça; e começamos
a ter coragens e boas esperanças.
Mas sempre surge alguma coisa que nos pára.
Aquiles junto ao fosso à nossa frente
surge e com grandes gritos assusta-nos.
São nossos esforços como os dos troianos.
Cuidamos que mudaremos com resolução
e valor a contrariedade da sorte,
e estamos cá fora para lutar.
Mas, quando vier o momento decisivo,
o nosso valor e a nossa resolução perdem-se;
a nossa alma fica alterada, paralisa;
e em redor das muralhas corremos
à procura de nos salvarmos pela fuga.
Porém a nossa queda é certa. Em cima,
nas muralhas já começou o pranto.
Choram pelas memórias e os sentimentos dos nossos dias.
Amargamente choram por nós Príamo e Hécuba.
[Tradução: Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Prastinis]